Resenhas

Jacco Gardner – Hypnophobia

Segundo álbum do músico leva a psicodelia para se aventurar com outros estilos

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Ano: 2015
Selo: Polyvinyl Records
# Faixas: 10
Estilos: Rock Psicodélico, Neo Psicodélico, Baroque Pop
Duração: 40:05
Nota: 3.5

Se Cabinet of Curiosities, era uma espécie de viagem no tempo de volta à “casa da vovó”, em Hypnophobia essa viagem pode até acontecer de novo, mas, agora, sob o efeito de poderosos alucinógenos. Digo isso porque o segundo disco de Jacco Gardner não é necessariamente nostálgico (ainda mais para quem não conhece exatamente de onde o músico está buscando suas referências). Ele me parece ser mais introspectivo, ou melhor, capaz de causar essa sensação no ouvinte, de fazê-lo mergulhar em si mesmo e todo aquele papo da psicodelia dos hippies.

De fato, não há como ouvir esse disco e não sentir a presença dos psicotrópicos nele – não estou dizendo que você tem que tomar um ácido para curti-lo, mas é quase como se o fizesse. Não à toa, o disco se inicia com Another You, dona de grande lisergia Pop, mas não no sentido do que faz MGMT ou mesmo Tame Impala. Ela tem um tempero muito único, quase como se Gardner levasse para um chá (um de cogumelos, talvez) músicos como Ariel Pink e Syd Barrett. São as melodias de um e as construções psicodélicas do outro – ou seria o contrário? -, encontrando-se em algo novo, algo com a marca de Jacco.

O disco tem algo de transcendental, quase místico. A instrumental Grey Lane introduz o ouvinte a um pouco desse mundo mágico através de sua melodia que mais parece vir de um conto medieval repleto de fadinhas e outros seres benevolentes, quando, de súbito, a guitarra entra para reorientar o passeio do ouvinte para terras mais aventurescas e inexploradas. O single Find Yourself é outro capítulo desse conto, uma parte reconfortante e, ao mesmo tempo, desafiadora – e basta pensar que o músico usa sua sensibilidade Pop para amalgamar algo próximo ao Funk com o Rock Psicodélico, sem esquecer dessas melodias medievais, que tomam um ar quase épico ao fim da canção.

E por falar em aventura, Jacco se lança em varias delas durante o álbum, ora pendendo para um lado Folk (Face To Face), ora pra Psicodelia mais clássica (Outside Forever), ora seguindo um estilo mais contemporâneo (Hypnophobia). E é interessante ver como ele constrói suas músicas a partir dessas variações, bebendo ainda na fonte do Borouque Pop e Nova Psicodelia. É impressionante também como, para criar essa variedade estilistica, o músico consegue acomodar tantas camadas de instrumentos e voz sem tirar a potência delas ou sem causar conflitos cacofônicos. É como se entropia e caos não fossem conceitos tão diferentes assim, como se os dois desempenhassem papéis equivalentes e fundamentais para a música de Jacco funcionar tão bem.

Mas, fique atento. Se tudo indica que o disco é saudosista e muito ligado ao passado, a coisa pode não ser tão “preto no branco” como você imagina. “Eu sou muito inspirado pela tecnologia de hoje, pelas tantas coisas que eu faço e que não seriam no passado”, diz o músico. Para não cairmos nessa analise “duocromática”, temos que levar em conta que há toda um matiz de cores dentro disso, há vários tons de cinza a se levar em consideração.

Hypnophobia veio de um de um lugar onde medo, escuridão e criatividade colidem, como um sonho acordado ligeiramente assustador”. É assim que o próprio músico define seu álbum, o ilustra como um sonho que acontece no limbo, no limiar entre o mundo dos sonhos e nossa vida corpórea. Algo que ao mesmo tempo é soturno, também é etéreo. Um misto de fantasia e vida real que sem duvidas é um grande avanço quando comparado ao que foi visto em Cabinet of Curiosities.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts