Resenhas

James Bay – Chaos and the Calm

Cantor e compositor inglês estreia com pinta de “popstar” internacional

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Ano: 2015
Selo: Virgin - EMI
# Faixas: 12
Estilos: Rock Alternativo, Pop Alternativo, Folk Alternativo
Duração: 46:47
Nota: 3.5
Produção: Jacquire King

Eis aqui a chance de conhecer o trabalho de uma estrela em ascensão. Em pouco tempo, ouviremos falar de James Bay na grande mídia, suas canções tocarão nas rádios e seus clipes chegarão à televisão. Bay é desses artistas que conjugam vários elementos pelos quais a indústria musical sempre anseia. É boa pinta, tem um visual de trovador errante que se desloca de cidade em cidade pegando caronas com caminhoneiros sem se deixar machucar totalmente pelas estradas da vida e, se isso acontece, ele sublima a porrada com sensibilidade, esperteza e tiradas docinhas. Além disso, claro, tem a música. Bay canta bem, mistura sua herança de habitante da pacata cidade de Hertfordshire, perto-longe da Grande Londres, mas o suficiente para conferir alguma identidade não totalmente urbana e cosmopolita com algum verniz American Idol. E tem a música, claro.

Não dá pra dizer que Bay não tem talento, pelo contrário. O que ele consegue neste álbum de estreia pode ser o melhor debut de um artista no gênero em muito tempo, talvez desde Mumford & Sons ou o próprio Kings Of Leon, justamente porque o sujeito traz informações destas duas bandas e as processa numa engenhoca Pop rara de se ver hoje em dia, dando origem a baladas e canções em midtempo que funcionam como açúcar para ouvidos cansados da amargura metida a genial que existe por aí. O máximo de pose que Bay nos impõe é a de um andarilho torturado e reflexivo, o que dá para suportar por algum tempo.

Na produção de Chaos And The Calm, está Jacquire Lee, o sujeito que já pilota estúdios para o próprio Kings Of Leon e o grande Tom Waits, tendo chefiado as gravações de Bay em Nashville. Podemos notar que havia um orçamento, digamos, à moda antiga, disponível para a empreitada do primeiro álbum do rapaz, mostrando que a velha indústria musical tem os seus atrativos e benefícios. Enquanto alguns gravam no laptop, o jovem teve a chance de voar até o Blackbird Studios e isso faz diferença no produto final. O rapaz compôs todas as doze canções do disco e a parceria com King propõe um simpático álbum de Folk moderno, com acento Pop de primeira categoria e flertes curtinhos com algo de Soul, algo de Blues, tudo equilibrado e em seus devidos lugares, com James dando inúmeras provas de talento ao longo das doze composições.

O arranjo solente da “vanmorrisoniana” Move Together, com cordas e acento Gospel dá uma ideia do terreno em que Bay escolheu pisar. Sua performance como vocalista é sólida o bastante, algo que ele já apresenta ao ouvinte logo na primeira canção, Craving, com andamento rápido e guitarrama feita para canto coletivo em grandes ginásios, mas sem perder alguma pitada de mis-en-scéne de sofrimento galopante. A placidez de Hold Back The River já é o extremo oposto, mostrando o James Bay do entardecer, o cara de preto com a mala na mão, fazendo sinal de carona à beira da rodovia mas com esperteza e arranjo que evoca guitarras à la U2 e vocais Pop. Outro exemplo de multiplicidade está em Best Fake Smile, roqueira mas nem tanto, porém perfeitinha na produção e concepção. Scars é tristonha, Collide sugere malandragem para enfrentar as questões do coração e Get Out While You Can é mais uma moderna canção para cantorias coletivas em grandes espaços.

James Bay se mostra um degrau acima de gente como Sam Smith ou Ed Sheeran, que têm talento, mas nem sempre ganham o aval da crítica especializada justamente por deixarem à mostra alguns toques e retoques dos departamentos de marketing de suas gravadoras. Aqui essas ações são bem discretas ou inexistentes, configurando Bay, 24 anos, para habitar seu aparelho de MP3 em breve e isso não será ruim.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.