Resenhas

James Blake – The Colour In Anything

Com melodias mais complexas, britânico embala sua sufocante e melancólica jornada pelo fim de um relacionamento

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Ano: 2016
Selo: Polydor
# Faixas: 17
Estilos: Post Dubstep, Soul, Alt-R&B
Duração: 76:13
Nota: 4.5
Produção: James Blake, Rick Rubin

James Blake parece ter total domínio sobre sua arte, mas ainda nos leva a pensar que não atingiu todo seu potencial. Em The Colour In Anything, terceiro e mais complexo disco do jovem músico britânico, Blake parece nunca se entregar por inteiro. É como se de certa forma se alimentasse de seu próprio sofrimento, se penitenciando e impedindo sua própria música de atingir um clímax emocional, sempre inserindo interferências caóticas e imprevisíveis.

Por ter uma das vozes mais bonitas da música contemporânea e conseguir compor melodias vocais únicas, James tem – ou poderia ter – um apelo Pop indiscutível. Mas, ao não fazer questão de demonstrar todo seu alcance vocal de forma expansiva e quase pornográfica – como faz, por exemplo, seu conterrâneo Sam Smith -, o cantor torna sua música muito mais interessante e menos cansativa. Seus mais belos momentos vocais estão sempre duplicados, escondidos por trás da melodia, como se fosse a representação musical da sensualidade, que se manifesta mais intensamente naquilo que não podemos ver. Encontramos aqui a mesma variação apaixonante entre seus falsetes e graves, o mesmo piano minimalista envolto em camadas da mais melancólica Eletrônica, mas desta vez, Blake parece explorar de maneira mais livre todas as possibilidades de sua música.

Talvez essa expansão melódica, representada também pela presença inédita de colaborações – Justin Vernon (Bon Iver), Frank Ocean, Connan Mockasin e o lendário produtor Rick Rubin -, sirva como contraponto para sua obsessão temática sufocante com o término de um relacionamento. Com letras simples – muitas vezes com faixas girando em torno de um único verso – e diretas, ele parece comentar em todas as 17 canções do disco todas as possíveis abordagens sobre o fim de um namoro.

Apesar disso, Blake não soa cansativo, pois consegue abordar a separação de uma forma menos óbvia. Mais do que apenas ressaltar a tristeza, a solidão ou a saudade, ele foca no abismo que há entre o grau de intimidade e confiança entre duas pessoas antes e depois de um relacionamento.

Uma relação familiar ou de amizade, caso não haja nenhum conflito mais sério, oscilará naturalmente entre momentos de contato diário e muito próximo e outros de menos proximidade, bastando sempre um telefonema ou uma mensagem para reaproximar as coisas. Já num relacionamento amoroso, necessariamente, o grau de intensidade da convivência é altíssimo, provavelmente mais alto do que com qualquer amigo ou familiar, e, de repente, no momento do término, isso tudo despenca bruscamente para uma ausência total de contato e convivência.

James Blake entende como poucos essa ironia brutal, mas, ao mesmo tempo, tão desejada que são os relacionamentos. A pessoa mais importante e presente em sua vida pode, de repente, tornar-se a mais distante e ausente. Não por acaso, chegando no fundo do poço emocional que The Colour In Anything nos leva, o músico usa como metáfora para tal situação a única outra possível causa de uma interrupção tão brusca numa relação entre duas pessoas, a morte.

Por ser um disco tão denso e desgastante, não há nele uma nova Limit To Your Love ou uma Retrograde. Se é o que procura, experimente as candidatas Love Me in Whatever Way ou I Need A Forest Fire (com participação de Bon Iver), mas o disco inteiro vai além de bons refrões e gemidos arrepiantes.

Com um álbum longo, Blake nos leva em um passeio por sua cabeça extremamente consciente da geração melancólica e egoísta da qual faz parte. Passamos por F.O.R.E.V.E.R, uma de suas letras mais cuidadosas – justamente por ser mais metafórica e menos direto ao ponto -, por um de seus refrões mais bonitos em My Willing Heart – “When I see my willing heart/ How will I know?/ How will I walk slow?” – por sua entrega vocal mais expansiva em Choose Me, talvez a mais emocionante do disco – e até nos vemos dançando com a hipnótica Timeless – que segundo ele, era para contar com uma participação de Kanye West.

Em seus dois primeiros discos, o compositor inglês parecia enxergar beleza na melancolia. Em The Colour In Anything, sua percepção parece menos romantizada, mais dolorida, mas ainda egocêntrica, como todos somos – e talvez até devemos ser – em nossos piores momentos. A visão que James Blake mostra ter sobre o amor parece um pouco mais madura, justamente, por ser totalmente obcecada, confusa e descontrolada.

(The Colour In Anything em uma música: Choose Me)

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BOM PARA QUEM OUVE: FKA Twigs, Radiohead, Bon Iver

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.