Resenhas

James – La Petit Mort

Banda inglesa continua mostrando seu grande valor após 17 álbuns

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Ano: 2014
Selo: BMG
# Faixas: 11
Estilos: Alternativo, Pop, Rock.
Duração: 49:29
Nota: 4.0
Produção: Max Dingel
SoundCloud: https://www.youtube.com/watch?v=OFIh0sSxurA

É bem provável que você nunca tenha associado a expressão “rock de Manchester” a James. Tampouco você imaginava que os britânicos já estivessem em atividade desde o início dos anos 1980, com uma carreira que já contabiliza 16 álbuns, sendo La Petit Mort, o décimo-sétimo trabalho dos sujeitos. Não se culpe, o Rock e a própria vida estão cheio de coadjuvantes de luxo, gente que pode ter muito valor, mas, por algum motivo, não mereceram nossa atenção ou os holofotes da fama. Entre 1982 e 2014, a banda testemunhou todos os movimentos musicais no Reino Unido, foi alternativa, Acid Rock, Britpop, amadureceu, encerrou atividadades, retornou e segue firme. A banda foi produzida por ninguém menos que Brian Eno e recebeu elogios públicos de Morrissey, no distante ano de 1985, quando ainda era uma aposta razoável para ser sucessora de The Smiths.

La Petit Mort quebra um jejum de seis anos com bastante propriedade. Para o comando do estúdio e produção do álbum, foi recrutado Max Dingel, famoso por seus serviços prestados a bandas como White Lies, The Killers e [Muse] (http://wordpress-214585-650819.cloudwaysapps.com//artistas/863/muse), capaz de conferir botox musical ao som de James visando atingir a crocância 00/10 necessária para as novíssimas gerações. Não é novidade para os veteranos, que já trabalharam com gente do quilate de Gil Norton (Pixies) e Youth (Killing Joke), além do já mencionado Eno. O encaixe da modernidade de Dingel já surge logo na abertura do disco, com Walk Like You, com pianos, efeitos, guitarras e cellos que emolduram a voz de Tim Booth, inalterada após tanto tempo. Curse Curse é feita para brilhar em estádios e grandes plateias, com aquele clima de sintetizadores intermitentes e condução ao som de bumbo e baixo sintetizado. Moving On já é mais enguitarrada e cadenciada, com aerodinâmica e ambiência anos 1990, também propícia para grandes espaços. Gone Baby Gone também segue nesse mesmo terreno, com início tenso e um certo clima de U2 pós-Zooropa no ar.

Frozen Britain é uma pequena e discreta visita às pistas de dança mais alternativas dos anos 1980, com pianos e guitarras épicas, mas não tanto, talvez apenas o suficiente, mas que antecedem a próxima canção, Interrogation, com um interessante fraseado de teclado na introdução e andamento calcado no bumbo e na base do “vai explodir no refrão”, na melhor escola anos 00. Bitter Virtue é introspectiva, serena e com violões que se dobram sobre a voz de Booth. All In My Mind é balada clássica e pianística, com andamento clássico e arranjo decalcado dos melhores manuais do estilo. O mesmo piano segue adiante na mais bela canção do disco, que é Quicken The Dead, cheia de corais, cordas e espirais sobre um looping nas teclas brancas e pretas. All I’m Saying é triste, lembrando um passeio sobre a neve e a faixa bônus Whistleblowers fecha os trabalhos com mais um aceno aos 1990’s, devidamente sob a forma de uma canção que poderia ser de Morrissey no mesmo período.

O novo disco do grupo mancuniano é arejado e cheio de detalhes. Não parece feito sob algum signo de tristeza, ainda que seja dedicado à mãe de Tim Booth, falecida pouco antes do início das gravações. É Rock clássico, harmonioso, vigoroso quando necessário, singelo quando possível. Se você gosta da música vinda da Velha Ilha, ainda que não seja badalada ou frequentadora das capas dos semanários alternativos, James pode ser o velho amigo que você ainda não conhecia.

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ARTISTA: James

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.