Resenhas

James Taylor – Before This World

Novo álbum retoma placidez Folk do veterano cantor/compositor

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Ano: 2015
Selo: Concord
# Faixas: 10
Estilos: Folk, Pop, AOR
Duração: 41:50
Nota: 3.5
Produção: Dave O'Donnell, James Taylor

Apesar da aparência plácida, uma olhada mais detida na biografia de James Taylor, mostrará um sujeito razoavelmente atormentado. Prestando atenção em suas letras e melodias, tal constatação ainda é mais estranha, uma vez que suas canções são, quase sempre, pequenas conversas com o ouvinte. São – como todo bom cantador/contador de histórias Folk – pequenos e preciosos momentos em que há troca de experiências entre público e artista. James sempre soube do valor desse momento, privilegiando suas apresentações e vida na estrada, perto de seu público. Como já disseram por aí, as narrativas de James não partem corações, pelo contrário, se oferecem gentilmente como interlocutoras, testemunhas, quase sempre fazendo um carinho no ouvinte. Parece simples, parece natural, mas é fruto de grande sensibilidade.

Como seria para James Taylor então viver num mundo em que as pessoas estão, ao mesmo tempo, conectadas e profundamente solitárias? Ele optou por uma abordagem, digamos, tradicional. Após treze anos sem gravar material autoral inédito, isolou-se num apartamento emprestado por um amigo e compôs a maioria das canções de Before This World (título mais sintomático, impossível). Após finalizá-las, James foi para sua casa em Massachussets, recrutou o produtor Dave O’Donnell e sua banda (na qual estão o baixista Jimmy Johnson e o baterista Steve Gadd) para seu celeiro/estúdio e iniciou as gravações. O clima de camaradagem de velhas raposas felpudas pode ser sentido imediatamente. O mais interessante é que Taylor não busca a nostalgia para entreter seu público mais maduro, tampouco apela para algum mecanismo falso para atrair novas audiências, sua música é generosa o bastante para abarcar todo mundo que deseje apenas ouvir uma bela canção.

Before This World tem bons espécimes da artesania JT de canção. Angels Of Fenway tem apelo esportivo, narrando uma épica conquista do Boston Red Sox, time do coração, que ficou mais de oitenta anos sem conquistar um campeonato, com andamento solene e trechos de narrações de rádio. Dois bons exemplos de canção AOR que James incorporou aos poucos na carreira surgem com a bluesy Strecht Of The Highway, cheia de metais bem colocados, e Watchin’ Over Me, igualmente aerodinâmica, com letra falando sobre companheirismo e cuidado. Snow Time tem letra em espanhol e inglês, com participação de Sting e clima de inverno, mas não de Natal. Lembra remotamente a canção que ele compôs em homenagem ao Rio, Only A Dream In Rio, logo após o Rock In Rio.

Before This World/Jolly Springtime fala da temática central do álbum, a de viver numa época em que tudo é rápido, raso e efêmero, procurando não perder o foco no que realmente importa. O arranjo privilegia o violão de Taylor, dobrado e enfeitado pelo cello de Yo-Yo Ma, belamente inserido no contexto da canção. Far Afeghanistan é uma rara composição sobre a guerra e o impacto que ela traz para quem fica em casa, esperando alguém voltar inteiro da frente de combate e o fecho, com Wild Mountain Thyme é contemplativa sobre a passagem das estações do ano, a mudança nas cores das coisas, quase zen, quase natural, leve como a brisa.

A canção de JT tem esse caráter idílico e amistoso por excelência. É pouso certo após dia estressante de trabalho ou para desencadear algum mecanismo de inconsciente coletivo sobre tempos de paz, união, amor entre as pessoas, honrando suas origens hippies/sessentistas. Tem o tempero no travo da saudade e alguma dor que carregamos em nossas vidas, mas, quase sempre, é experiência renovadora. Não está na ponta de lança das revoluções estéticas, mas, igualmente poderosa, manteve-se presente por tempo suficiente para não precisar de tantas explicações e teorias.

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BOM PARA QUEM OUVE: Sun Kil Moon, Ray Lamontagne, Nick Drake
ARTISTA: James Taylor
MARCADORES: Aor, Folk, Pop

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.