Depois de um disco, Everything Works (2017), EPs como Pirouette (2018) e Turn Into (2016) e alguns anos na estrada, Melina Duterte finalmente apresenta o seu LP Anak Ko (“minha criança”, em filipino). Produzido, gravado e mixado pela própria artista durante uma imersão em Joshua Tree, o disco ainda conta com vocais adicionais e doses instrumentais de amigas como Laetitia Tamko (Vagabon), Annie Truscott (Chastity Belt) e Taylor Vick (Boy Scout).
Por mais que o trabalho seja fruto 100% do esforço criativo de Melina, as novas composições passaram pela experiência de diversos shows ao vivo, ganhando extensões de jams e novos elementos (violino, synth e beats, por exemplo). Como podemos ver em suas sessions ao vivo na internet, o entrosamento com os companheiros de banda – Zachary Elasser, Oliver Pinnel e Dylan Allard – tornaram suas composições ainda mais repletas de nuances e “climões”, se compararmos com Everything Works. Menos Indie Rock, o novo trabalho esbarra nas influências anteriores de Melina: seu background no Jazz entra em cena. Aliás, além de tocar guitarra, teclado, bateria, ela estudou trompete durante nove anos.
Lá em 2015, quando começou a rascunhar o que seria o debut do projeto, por produzir tudo em seu Home Studio, a tag de “Bedroom Pop” colou no seu som. Hoje, contudo, suas faixas misturam referências: algo como um “Shoegaze banhado pelo sol de Los Angeles”, entre outros combinados interessantes que o projeto suscita. Segundo o release do novo álbum, a artista declara que bebeu de influências de bandas dos anos 1980 como Prefab Sprout, The Cure e Cocteau Twins, assim como os contemporâneos do Weed.
Entre suas letras cantadas em primeira pessoa, a compositora escreve com delicadeza sobre suas dúvidas da vida em sociedade. Incômodos e fragilidades aparecem musicadas em versos cíclicos que expressam seus desejos de mudanças e questionamentos cotidianos. Em “Devotion” ela começa assim: “Used to be the one to cry / And feel the emotions/ Needed a path to find / The strange devotion / I changed my mind / Won’t look no further / Just takes some time” (Costumava chorar / Sentir as emoções / Precisava encontrar um caminho / Uma estranha devoção / Mudei de ideia / Vou parar de procurar / Isso só leva algum tempo”.
Como muitos norte-americanos usam o termo “low-key” para descrever o trabalho da artista, vale dizer que suas virtudes bebem desse equilíbrio de sensações. Refinando suas escolhas estéticas, seja em timbres oitentistas, nas doses de Folk ou no groove do baixo, o registro se resume a uma apresentação das novas, curiosas e inteligentes explorações sonoras de Duterte como Jay Som. É um segundo passo de uma trajetória que parece reservar boas surpresas.
(Anak Ko em uma música “Tenderness”)