Resenhas

Jeff Tweedy – Love Is the King

Líder do Wilco passeia por influências que o formaram musicalmente, e quarto disco solo encanta com singeleza e intimismo

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Ano: 2020
Selo: BMG
# Faixas: 11
Estilos: Folk, Folk Rock, Rock Alternativo
Duração: 39'
Produção: Jeff Tweedy

O que mais encanta em Love Is the King é o aspecto despojado com que a obra claramente foi feita. Mesmo se o ouvinte não conhecer o seu contexto – de gravações em casa durante a pandemia do Covid-19 –, a audição mostra a musicalidade desenvolvida com grande naturalidade por Jeff Tweedy, fruto de um talento polido e de vasta experiência, principalmente à frente da fabulosa banda Wilco.

Pois bem, o disco (o seu quarto lançamento solo) foi todo feito em família, ao lado dos filhos Sammy e Spencer (esse último, seu parceiro no duo TWEEDY, lembra?), como uma espécie de desafio criativo que veio para compensar a turnê cancelada de sua banda. Entre a convivência forçada, as limitações do confinamento e a introspecção a que grande parte da população se submeteu durante a quarentena, nasceu um disco bastante “familiar” também em outros sentidos.

Isso porque as 11 músicas surgem como um mergulho de Jeff em sua própria musicalidade. Elas parecem o resultado de uma grande investigação espontânea daquilo que o formou sonoramente, exaltando suas raízes no Rock, Folk e até mesmo Country e que hoje nos entregam aquele Tweedy que tão bem conhecemos. E tudo nos é oferecido em uma sonoridade abafadinha, como se sugerisse o ambiente fechado, ou confinamento mesmo, em que essas músicas foram concebidas. É uma estética que valoriza grandemente o que há de mais humano, orgânico e até mesmo cru nesses estilos.

Então, há também um quê de familiaridade ao longo da obra no que diz respeito à tentativa (bem-sucedida) de nos entregar um verdadeiro passeio por sonoridades que identificamos de imediato. É o caso da guitarra Country na dobradinha “Opaline” e “A Robin or a Wren”, seu derivado Rock de aspecto mais caipira em “Half-Asleep” e “Guess Again” ou o Folk de base no violão da faixa-título e “Even I Can See”, para citar alguns exemplos. Não é arriscado afirmar que Tweedy não estava buscando nos surpreender com originalidade nesta obra. Pelo contrário, o que fica é a excelência com a qual ele trabalha o que já conhecemos.

Fãs do Wilco, como você deve imaginar a esse ponto do texto, serão contemplados com várias pequenas joias do naipe de “Gwendolyn” e “Bad Day Lately”, que exibem como o músico exercita esses estilos que lhe servem de base em fusão com o Rock Alternativo em quase três décadas de banda. A riqueza dos arranjos, ainda que dotados de uma simpática simplicidade em tantos momentos, nos ajuda a situar Jeff Tweedy como um dos grandes do nosso tempo, como tem sido apontado por público e crítica.

E aqui conhecemos ele ainda mais como o pai de família que gravou um disco ao lado dos filhos. As letras revelam como o convívio em família fez bem para sua criatividade e como o amor em casa lhe faz bem espiritualmente. Ao invés de um álbum com cara de “foi o que deu para fazer na pandemia”, temos uma obra de cunho pessoal que nasce da oportunidade do artista passar tempo não só com seus queridos, mas consigo mesmo.

(Love Is the King em uma faixa: “Even I Can See”)

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ARTISTA: Jeff Tweedy, Wilco

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.