Resenhas

Jenny Hval – Apocalypse, Girl

Terceiro álbum da cantora fascina pela sua extravagância em mistura de poesia com música Experimental

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Ano: 2015
Selo: Sacred Bones Records
# Faixas: 10
Estilos: Experimental, Singer-Songwriter
Duração: 38:00
Nota: 3.5
Produção: Lasse Marhaug

Ouvir Jenny Hval pode ser considerado uma experiência extra-sensorial e fora da música ao mesmo tempo. Sua forma de composição, semelhante a lampejos, devaneios e fluxos de consciência, causa estranhamento em uma primeira audição tanto pela sua forma como conteúdo. Longe de comodismos, a sua música pode ser definida como poesia orquestrada em movimento e, como muitos filmes com narração em off, passa muito menos conteúdo lírico e muito mais densidade emocional.

Toda essa composição não usual é acompanhada de uma instrumentação igualmente experimental que combina perfeitamente com o espírito de Apocalypse, Girl, o terceiro disco na carreira da cantora. Esse é também o primeiro lançamento com a gravadora Sacred Bones – conhecida pela sua abordagem mais dinâmica da música -, que não poderia ser um ambiente mais apropriado para que Jenny pudesse desenvolver sua musicalidade. Logo, fique atento desde o príncipio que este álbum não é simples de se ouvir e que revela aos poucos suas virtudes.

Kingsize, a faixa de abertura, é carregada de abstração tanto no seu discurso e forma musical prosaica como também em seu conteúdo. Exemplo dos devaneios de Jenny, exarcebados ao longo de toda a obra pela sua atmosfera bastante onírica e nebulosa, a canção se ancora na definição que a cantora quer dar para “Soft Dick Rock” que, em outras palavras seria o rock leve, viajado e “mole”. Ao proferir tais palavras e outras viagens na letra, um misto de estranheza e humor no ar deixa o ouvinte preparado para o que virá em seguida.

Em alguns momentos, ela emana o ambiente gélido de sua Noruega, seguindo o experimentalismo vocal de outra rainha no quesito “fora do comum”, Björk. Angels and Anaemia e Why This? encantam justamente por serem canções sensitivas e não explicativas. O tom de voz de Jenny arrepia, mesmo que seja contextualizado por palavras vagas. Essa emoção pode ser precedida por um drop da bateria, como em Why This?, pelo uso de um verso de John Lennon na religiosa That Battle is Over ou pelas texturas sobrepostas de sua voz na ótima Take Care of Yourself.

A experiência por trás de Apocalypse, Girl pode ser definida como o ponto em que desconexões, barulho e poesia se encontram como música. Em alguns momentos, isso é mais facilmente definido em uma canção como em Heaven, melhor instante em todo o trabalho, que mistura inspirações celtas, ambiências do mar e uma batida viciante. Ao final, a estranheza é compensada pelo inesperado e Jenny se mostra muito menos inacessível do que se imaginaria em um primeiro contato. Semelhante a uma película de David Lynch – diretor de cinema que lançou um disco pelo mesmo Sacred Bones -, a cantora nos coloca dúvidas sobre o que é realidade e o que é sonho a partir de sua capacidade em transformar pensamentos em música. Isso pode ser tanto um ponto de atração a sua sonoridade como repulsão e depende somente da capacidade do ouvinte em entender o abstrato e apreciá-lo.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.