Resenhas

Jess Glynne – I Cry When I Laugh

Estreia da cantora inglesa deixa a desejar

Loading

Ano: 2015
Selo: Atlantic
# Faixas: 14
Estilos: Pop Alternativo, Pop Eletrônico, Eletrônico
Nota: 2.5
Produção: Clean Bandit, Gorgon City, Starsmith, Steve Mac

Nos últimos dezoito meses, a vida de Jess Glynne se transformou totalmente. Deixou de fazer parte do staff marketeiro de uma companhia de bebidas e se aventurou no misterioso e turbulento mundo do entretenimento como uma das grandes apostas recentes em termos de vocalistas britânicas branquelas de voz negra. É pra tanto, gente? Não, não é, mas Jess tem seu charme e alguns acertos. Tudo bem que há pouco tempo para análise, sobretudo se levarmos em conta que a voz da moça encontra-se até agora em alguns poucos singles e em colaborações. Vejamos as expectativas para a sua estreia em disco, I Cry When I Laugh.

Jess optou por trilhar a vereda da chamada Música Pop, o que significa, em termos atuais, uma possibilidade enorme de banalidade e exploração de detalhes estéticos que não significam, necessariamente, compreendê-la como uma cantora/compositora de talento. Ok, talvez isso não importe tanto para a maioria, mas essa londrina de 26 anos parece pensar algo mais interessante do que ser a nova boneca fashion da temporada. Beleza não falta a ela, ruiva, graciosa e com uma voz realmente interessante. O problema é, sem dúvida, o invólucro escolhido para suas canções. Vejamos sua primeira colaboração, Rather Be, com Clean Bandit. Pop song com potencial e muito bem sucedida nas paradas inglesas em 2014, mais de 300 milhões de visualizações do clipe no Youtube e ainda havia balanço, toques interessantes na produção e a voz de Jess sobrevoava tudo com estilo, dando pinta de revelação do ano. Daí veio a participação em outro projeto, assumindo os vocais em My Love, de Route 94, bem diferente da anterior, banal, sem graça e batidas dançantes estéreis mas igualmente bem sucedida nas paradas da Velha Ilha.

Com essas credenciais, Jess foi contratada pela Atlantic e teve sinal verde para gravar seu primeiro álbum e já temos seis canções lançadas em formato de single, Real Love, que tem fôlego de sobra ainda pela frente. Vejamos o caso de Why Me. Batida dançante convencional se insinua em início climático com voz e mínimo instrumental. A gente espera alguma explosão instrumental pela frente, que demora a vir. Percussões sintéticas entram em cena, vocais dobrados insinuam um refrão e temos esta constante espera por alguma riqueza melódica maior, que não vem. Já Don’t Be So Hard On Yourself vem diferente, com palmas, piano e algo que aponta para algum simulacro de canção R&B dos anos 90, mas que deriva para o uso de batidas convencionais e um certo poderio no arranjo, com cordas sintetizadas e alguma dramaticidade, colocada em xeque por conta de vocais de apoio no melhor estilo Jogos Olímpicos. No meio da canção, uma bateria sem qualquer propósito estraga o pouco que havia para celebrar.

Ain’t Got Far To Go é uma tentativa louvável de adentrar esse tal universo de cantoras inglesas com voz negra. Tem balanço, tinturas Gospel de boutique e alguma sensibilidade, mas o arranjo que fica preparando o ouvinte para algo que nunca vem, irrita e compromete. O motivo deste álbum não levar uma cotação realmente baixa reside numa bela canção, chamada Hold My Hand. Ela é a prova de que Jess funciona às mil maravilhas com a orientação certa e músicos competentes no estúdio. Tem balanço, tem tiques e taques que lembram People Hold On, sucesso velhusco de Lisa Stansfield, e um belo desempenho vocal.

Como disco de 14 músicas, I Cry When I Laugh não é lá essas coisas, mas é possível bater a mão na testa a cada canção e pensar: “não, Jess, teria sido melhor fazer isso ou fazer aquilo”, o que possibilita apostar algumas fichas no próximo trabalho da menina. Vamos aguardar.

Loading

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.