Resenhas

Jessy Lanza – Oh No

Segundo registro da cantora a liberta de comparações massantes

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Ano: 2016
Selo: Hyperdub/Domino
# Faixas: 10
Estilos: Eletrônica, Pop Alternativo, Synthwave
Duração: 40:00
Nota: 3.5
Produção: Jessy Lanza e Jeremy Greenspan

Comparar artistas é algo muito mais complicado do que parece. Ao colocarmos duas sonoridades semelhantes e traçarmos um paralelo, é muito fácil apontar que uma copiou a outra por X motivo e, a partir disso, escrever uma série de baboseiras sobre tal artista é mais ou menos original que o outro. Na verdade, nenhuma criação é 100% autentica e original, mas, ironicamente, é difícil pensar em cópias 100% fidedignas.

Dentro deste debate de dopplegangers questionáveis é que algumas dúvidas começaram a ser criadas sobre a produtora Jessy Lanza e como sua proposta parecia se assemelhava com Grimes. Ambas se usam de sintetizadores e uma profunda relação com a música Pop Eletrônica para criar divertidas e cativantes canções, com um apelo “chiclete” intenso, e isso provocou uma recepção negativa, gerando comparações massantes entre as duas, sendo Grimes a forma “original”. Agora, com o lançamento de seu segundo disco, Jessy começa a botar os pingos nos is.

Oh No é uma prova vívida de que a semelhança não é a mesma coisa que uma cópia. Aquelas comparações insípidas e superficiais, advindo bastante do jeito como ambas cantam começam a ficar pequenas e a personalidade lapidada de Jessy surge em meio há muitos lasers, sequenciadores e anos 1980. Essa é uma das características levadas mais a sério no disco, a partir do momento em que toda a ambientação das faixas se dá a tomar estereótipos desta época e reinterpretá-las de acordo com os sentimentos da produtora. Há indícios de elementos conhecidos da década do neon, mas sempre á alguma intervenção seja mais suave como uma simples recombinação de samples, ou mais densa, como uma sobreposição de sons criando algo mais experimental. Algo que beira o Vaporwave e a música Pop contemporânea.

Tudo isso vem liderado pela voz camaleônica de Jessy. Ela deixa claro que parte da sua identidade vem de sua capacidade de se adaptar aos ambientes mais variados. O pesudo-New Wave forçado e hipnótico de It Means I Love You dá margem a uma voz mais infantil e doce, enquanto a agitada e ginasta Never Enough evidencia uma Olivia Newton John mais remixada. É um grande mix de referências dos anos 80, mas é precisamente essa mistura que molda a textura que permeia todo disco e por mais que os puristas insistam na semelhança com a obra de Grimes, vale a pena uma audição mais atenta para perceber as particularidades da música de Jessy: simplista, nostálgica e camaleônica.

(Oh No em uma faixa: Going Somewhere)

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BOM PARA QUEM OUVE: Kate Bush, Yuna, Grimes
ARTISTA: Jessy Lanza

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique