Resenhas

Jimmy Eat World – Integrity Blues

Nono álbum do quarteto americano é sob encomenda para os fãs

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Ano: 2016
Selo: RCA
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Emocore, Punk Pop
Duração: 46:39
Nota: 3.5
Produção: Justin Meldal-Johnsen

Rapaz, ainda existe Jimmy Eat World. Nada contra, apenas surpresa, uma vez que a banda do Arizona parecia destinada a ter vida curta, da mesma forma que seus contemporâneos Good Charlotte, The Ataris, Blink 182 e todos os grupos Punk Pop/Emo que surgiram entre a segunda metade dos anos 1990 e o início dos anos 2000. Qual não foi a surpresa deste articulista quando, não só soube que ainda existia o grupo como ele havia sido apresentado como uma das atrações da edição 2017 do Lollapalooza. Enquanto alguns pediam Radiohead, terão que ver o velho JEW no palco. A vida é dura, admito. Mesmo assim, devo dizer que o preconceito em torno desse quarteto é fruto de equívocos que tentarei desfazer aqui. Não é missão fácil, mas é disso que o jornalista gosta. Acho.

Integrity Blues é o nono álbum dos sujeitos. Passaram as duas últimas décadas produzindo e lançado novas canções lá fora, gozando de uma confortável posição alternativa nas paradas de sucesso e mentes dos fãs, pois perderam o bonde da novidade e nunca chegaram a fazer Pop para as massas. As trilhas sonoras de séries televisivas também perderam o interesse em suas criações, mas a velha base de fãs os manteve vivos e relevantes. Agora, neste novo álbum, o quarteto mostra-se a fim de modernizar um pouco seu som. Para isso, recruta Justin Meldal-Johnsen para a produção do álbum, ele que tem fluência em trabalhos mais contemporâneos como, por exemplo, Beck, Nine Inch Nails e do simpático M83.

As aplicações de Justin ao som de Jimmy Eat World o tornou parecido com o de um irmão estético, Death Cab For Cutie, ou, pelo menos, com o que a banda de Seattle faz hoje em dia. Surge um Rock bem feito, muito bem gravado, inegavelmente feito para estádios, mas ainda guardando certa proximidade com o ouvinte, a ponto de também se prestar a ser música que a gente fica repetindo exaustivamente no quarto, no fone de ouvido pela rua, pensando na pessoa amada e não somente para explosões no plano público da vida. Essa distinção é bem rara e obtida por boas formações de Rock. O JEW tem bons elementos em sua formação, sobretudo, a boa voz de Jim Adkins, que tem sensibilidade herdada dos tempos Emo e desespero quase convincente, o que credencia suas canções para a adoção e consideração mais sérias.

Adkins também é compositor correto, o que pode ser comprovado em vários exemplos ao longo do disco. It Matters é o mais bem acabado produto musical do disco. Levada musculosa de baixo e bateria, intervenções de piano/teclado na medida certa, boa performance vocal e um refrão que dá chance para cantar de olhinhos fechados. Parece fácil, mas não é, pessoal. Pass The Baby é outro bom espécime da produção do grupo, com toque eletrônico bonitinho no início, clímax iminente à frente, oscilação entre barulho, silêncio e tensão em níveis acima do normal. Há espaço para arranjos mais grandiloquentes, com cordas e metais, que enfatizam a pujança das composições, mostrando que Jimmy Eat World vem evoluindo como banda, rumando para o uso mais extensivo de recursos de estúdio que vão além do baixo/bateria/guitarra. Tudo correto e no lugar. Neste âmbito, a bela faixa-título e o encerramento épico com Pol Roger comprovam essa tendência.

O único problema que uma audição deste disco pode causar é que não há um único momento em que a banda se compromete a ousar. Há um número elevado de admiradores e fãs de sua sonoridade que desejam exatamente essa solidificação, essa permanência de modelo. Para quem tem interesse em ver a música Pop evoluindo, avançando sobre novos territórios e conquistando novas instâncias, a obra de Jimmy Eat World não oferece nada. Para quem deseja ouvir um bom Rock, melodioso, bem feito, com boas composições, não irá se decepcionar.

(Integrity Blues em uma música: It Matters)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.