Se é esperado dos jovens uma quebra com o passado, uma cisão com as tradições, Joey Bada$$ vai na contramão e cria seu som bastante ligado ao antigo, mais especificamente à cena do Rap norte-americano que se desenvolveu durante os anos 90. Entre o espirito de prestar um tributo a estas obras e seguir a moda revivalista tão em voga em nossos dias, o rapper de apenas 20 anos faz de seu primeiro álbum uma máquina do tempo, uma homenagem aos mestres do estilo que decidiu seguir, tais como J Dilla, MF Doom e Nas.
B4.DA.$$ (ou Before Da Money) mantém-se muito apegado aos beats (os característicos boom-baps), à forma de produção e à fluidez dos versos daquela época, mas mostra também elementos que o tornam pertencentes a seu tempo, como suas temáticas contemporâneas e letras que não poderiam ser feitas em outra época. A década que separa estas duas eras do Rap foi palco para uma série de mudanças dentro do estilo, como sua popularização para muito longe do meio onde nasceu – o fim da guerra entre costas leste e oeste nos Estados Unidos – e o nascimento de outros tantos subgêneros, além do fato de que o estilo não é mais só uma forma de protesto, mas também um elemento da Cultura Pop e, como tal, instrumento para difusão das mais diversas ideias.
A obra de Joey é boa não por saber tão bem emular essas sonoridades antigas, mas por dar a elas um novo significado, trazê-las ao presente sob uma nova ótica. Certamente, todas as referências que os fãs de Rap podem perceber (e elas não são poucas, vão do R&B jazzistico de The Roots e A Tribe Called Quest ao som mais clássico e combativo de Wu-Tang Clan) são coisas que o rapper absorveu durante suas duas décadas de vida, elementos que estiveram tão presentes em sua infância e adolescência e que afloram em sua música, ao que tudo indica, de maneira consciente. Elas surgem como combustível para o jovem rapper criar sua própria história e deixar sua marca no estilo.
Esta é, até agora, a obra mais consistente de Joey (superando facilmente as mixtapes 1999 e Summer Knights), não só com em questões de produção, beats e influências, mas também no que o rapper traz de si à obra. Há muito da vida do rapper aqui, como sua “inferioridade” em relação a outros nomes do passado (Save The Children), as consequências da fama e dinheiro em sua vida (Paper Trail$), violência e o sentimento de aprisionamento (Belly of The Beast e No. 99), enfrentar sua própria mortalidade (On & On) e até mesmo a relação com sua mãe (Curry Chicken).
No fim das contas, não são as batidas ou mesmo o clima noventista que mais chamam a atenção aqui, mas o próprio rapper contando suas histórias, seu flow nos versos e sua versatilidade em rimar sob os mais variados planos de fundo. Joey Bada$$ é um jovem talentoso e capaz de emocionar com seus versos.
