Resenhas

John Legend – Love In The Future

Novo disco do músico da nova Soul Music se configura como um meio termo entre clássicos dos anos 70 e 2000

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Ano: 2013
Selo: Sony
# Faixas: 20
Estilos: Soul
Duração: 67:31
Nota: 3.5

John Stephens, mais conhecido como John Legend, é um cara legal. Toca piano e canta desde os cinco anos, deixou seu estado natal (Ohio) aos 16 anos para estudar na Filadélfia e parece ser um dedicado artista do terreno da nova música Soul. Ele já conta com uma carreira sólida, que teve início em 1998, quando tocou piano em Everything Is Everything, composição presente na estreia solo de Lauryn Hill, The Miseducation, que galgou as paradas de sucesso em todo o planeta.

Legend terminou os estudos e foi para Nova York, onde iniciou sua peregrinação pelos clubes e boates da cidade, integrando uma cena que contava com nomes como Alicia Keys. Em pouco tempo, cantando, compondo e tocando, Legend já estava com contrato assinado e lançando um disco ao vivo chamado Live At SOB’s, New York City. Um ano depois, em 2004, Legend lançaria seu primeiro álbum de inéditas, basicamente com o mesmo repertório do trabalho ao vivo. Daí veio seu primeiro hit, Lifted. Ele soltaria outro disco gravado ao vivo, chamado Solo Sessions Vol.1 – Live At Knitting Factory e daria andamento a uma carreira segura, pouco ousada e apenas competente.

Há dois momentos recentes em que John fez algo interessante. Seu disco de standards Soul/Funk gravado com Roots, Wake Up (2010), mostra um desejo sincero de revisitar canções com consciência e forjadas em tempos de outrora, quando havia riscos a correr ao colocar uma ou outra letra mais agressiva numa melodia. Mesmo que a boa pinta de Legend não combinasse com a urgência de manifestos como Hard Times, de Curtis Mayfield, a intenção e o resultado foram legais. O outro bom momento dele é agora, com o lançamento de seu novo trabalho, Love In The Future

O ouvinte atual de Black Music pode achar bem resolvido o conceito do disco, que fala de amor e esperança, celebrando a atual condição de homem casado de Legend, naquele momento feliz da vida em que fazemos planos sobre os nomes dos filhos que teremos ou como vamos passar a maior parte do tempo quando estivermos velhos. É normal e legal vivenciar isso e John se cerca dos melhores produtores atuais da música negra americana – Q-Tip, Hit-Boy, Doc McKinney, 88 Runners, entre outros – para forjar um feixe de 20 canções interligadas por algumas pequenas vinhetas e interlúdios, amarrando o contexto e dando ao disco uma cara de extravagância, mas que apenas ocuparia o rodapé de obras no mesmo gênero de Barry White ou Lou Rawls, lançadas nos anos 70.

Pode ser injusto exigir de John Legend estofo e conteúdo soul justo agora, quando há canções legais como a cover de Bobby Caldwell, Open Your Eyes ou a colaboração com Q-Tip, Tomorrow ou ainda o dueto com Seal em We Love It. A melhor faixa, entretanto, é Angel, do repertório classudo de Anita Baker, cantada em outro dueto, com a novata Stacy Barthe. Se você é uma pessoa que começou ouvindo música negra nos anos 90 e acha valor em gente como Jay-Z, talvez esse disco de Legend abra novíssimas portas. Se você, ao contrário, já ouve música negra há tempos e nem se impressionou com artistas dos anos 90 como Maxwell e D’Angelo, a obra de John Legend será como um carro popular comparado a um Mustang 1969.

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ARTISTA: John Legend
MARCADORES: Soul

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.