Resenhas

Johnny Jewel – Windswept

Compositor e produtor faz álbum com tons soturnos de Pop

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Ano: 2017
Selo: Italians Do It Better
# Faixas: 14
Estilos: Lo-Fi, Synthpop, Eletrônico
Duração: 38:07
Nota: 3.5
Produção: Johnny Jewel

Johnny Jewel é um compositor e produtor norte-americano, mais precisamente do estado do Texas. O sujeito é um desses nerds de estúdio, cultor de trilhas sonoras dos anos 1970/80, ápice da TV como influenciador de mentes e como vitrine de produções bem legais. Certamente este foi o caminho que levou Johnny a compor, gravar e pensar a música, especialmente a partir de um grupo de produtos interessantes do fim dos anos 1980, a saber, filmes como Baghdad Cafe, Blue Velvet, Wild At Heart e a série televisiva Twin Peaks. Tal impressão veio após algumas audições deste seu novo trabalho Windswept, sobre o qual empreendi a pesquisa habitual e observei que, sim, algumas destas canções estarão na trilha sonora da terceira temporada da antológica criação de David Lynch sobre a fictícia cidade do noroeste americano, que, há cerca de 25 anos, foi palco do assassinato de Laura Palmer.

Falar da obra de Johnny Jewel usando Twin Peaks como guia é uma boa opção para dar ao leitor uma ideia do que estamos falando. A praia aqui é um Pop grandiloquente e estranho, cínico, decadente, suntuoso e com os dois pés firmes na escuridão da mente humana. Não se trata de nada aterrorizante, a ideia é mostrar o quão estranhos podemos ser. Se as imagens da saga do Agente Cooper definem satisfatoriamente tal parâmetro, a música do compositor italiano Angelo Badalamenti servia como uma luva sonora nas primeiras duas temporadas da série americana. Quem estava vivo naqueles anos de 1989/90 sabe que Twin Peaks foi o primeiro fenômeno da cultura pop num mundo em vias de assumir a configuração política que tem hoje. Tudo passou a ser muito maior e acontecer em velocidade mais intensa. Mas isso não vem (totalmente) ao caso. A obra de Johnny Jewel tem seu mérito e vale sua atenção. Não por acaso, o sujeito foi responsável por uma das trilhas mais legais dos últimos tempos: Drive, de 2010, estrelado por Ryan Gosling e Carey Mulligan.

Temos interessantes exemplos dessa modalidade dark de música Pop, com variações climáticas, instrumentais, vocais, de tudo um pouco. O que fica latente é o talento de Jewel em expor suas influências dentro deste passeio pelo lado obscuro da Força. Faixas como Television Snow e a canção-título, instrumentais e ornadas com elementos orquestrais nitidamente executados em teclados e outros instrumentos emuladores, mostra que nem tudo é o que parece, mas que pode confundir alegremente. O ouvinte não está preocupado com fidedignidade mecânica, mas com o passaporte para a sala escura. E Jewel oferece um visto de permanência para estes rincões. As colaborações com projetos paralelos como Desire (em Saturday) e Chromatics (na bela cover de Blue Moon) mostram a variedade de repertório e a habilidade em soar repetitivo, atuando basicamente como idealizador e arranjador.

Em outros momentos, a fluência de Johnny vai além do terreno puramente sombrio, adentrando o bom manejo com elementos eletrônicos, caso do que ele consegue em Strobe Lights, uma faixa com pouco mais de dois minutos de duração, com timbres e sequenciadores Lo-Fi, e Insomnia, na qual ele assume a função de trilheiro num escopo muito maior, pegando emprestadas sonoridades perturbadoras de produções de terror, no sentido John Carpenter do gênero. No entanto, a veia de maior domínio é a que já mencionamos acima, com faixas do calibre de Motel, com outro projeto paralelo, no caso, Glass Candy, cheia de xilofones e saxofones que parecem tocados de uma outra dimensão.

Não dá pra comparar a obra de Jewel com a icônica assinatura de Badalamenti na trilha original de Twin Peaks, mas podemos notar claramente o parentesco entre ambos, causando aquela curiosidade marota, a tal curiosidade moleque, a boa e velha curiosidade-arte para ver como algumas canções deste álbum funcionarão no reboot da série. A conferir.

(Windswept em uma música: Blue Moon)

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BOM PARA QUEM OUVE: John Carpenter, Nick Cave, Trent Reznor
ARTISTA: Johnny Jewel
MARCADORES: Eletrônica, Lo-Fi, Synthpop

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.