Resenhas

Johnny Marr – Call The Comet

Álbum reforça certezas que músico construiu ao logo de sua carreira

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Ano: 2018
Selo: New Voodoo
# Faixas: 12
Estilos: Pós-Punk, Rock Alternativo
Duração: 57:56
Nota: 3.0
Produção: Johnny Marr, Doviak

Enquanto fãs da finada – e icônica – banda The Smiths têm sua fé testada com Morrissey, um cara que escolheu os holofotes e, consequentemente, as polêmicas para dar um gás na sua carreira, Johnny Marr tem se colocado como uma alternativa mais sensata, segura, para os afetos do Pós-Punk inglês e suas adjacências.

Marr é bastante prolífico e participativo, e tem figurado desde o encerramento de The Smiths em diversos projetos como guitarrista, compositor, mente criativa e assim por diante. O principal deles é, obviamente, sua carreira solo. Call the Comet é o seu terceiro álbum completo na empreitada individual, trabalho que chega após Playland, de 2014.

Embora procure oferecer a perspectiva do artista para a vida contemporânea, Call The Comet tem a virtude não se afundar em uma visão ressentida de mundo, diferentemente do que tem acontecido com tantos outros projetos musicais, que pouco oferecem além de uma visão óbvia, consensual, de que os sistemas estão em crise. A sensação que emana por aqui é que Marr pretende enfrentar o fim do mundo com esperança, com romantismo e até com certa ingenuidade – características que dão vulnerabilidade e um frescor muito necessário à música dos dias de hoje.

No entanto, é uma pena que no espectro musical essa visão se traduza em referências datadas, vindas de um Rock que dá a sensação de estar desatualizado. A faixa mais emblemática talvez seja Hi Hello, que soa como um mashup de Dancing Barefoot (Patti Smith), There’s a Light That Never Goes Out (The Smiths) e Seven Nation Army (The White Stripes). Essa crença de um Rock que se basta nos riffs de guitarras, na distorção e no céu cinzento da Inglaterra perpassa pelo álbum como um todo, no entanto, a massa sonora de melodias desgastadas já não seguram tanto a onda quanto há 20 anos ou mais.

Apesar disso, é muito possível que a maré esteja virando para o velho Rock – sensação que se tem ao ouvir, por exemplo, Interpol soando relevante novamente depois de algum tempo na surdina. Ou seja, é muito possível que uma nova fonte de inspiração esteja brotando para o estilo. Fica o desejo de que Marr, artista seminal dos anos oitenta e dono de um legado indiscutível para a música, pegue essa onda. Por enquanto Call The Comet vai agradar aqueles que já eram simpáticos ao músico ao reforçar as certezas que Marr tem a respeito de si mesmo.

(Call The Comet em uma música: Hi Hello)

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BOM PARA QUEM OUVE: Morrissey, Kasabian, Damon Albarn
ARTISTA: Johnny Marr

Autor:

é músico e escreve sobre arte