Resenhas

Jonathan Tadeu – Queda Livre

Trabalho abre novos horizontes ao músico mineiro e transforma tristeza em contemplação

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Ano: 2016
Selo: Independente
# Faixas: 10
Estilos: Post-Rock, Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 39:30
Nota: 4.0
Produção: Fernando Bones

“Talvez seja melhor/Aprender a lidar com a própria solidão/Antes de viver a dos outros” são os versos iniciais absorvidos em uma levada roqueira que nos remete aos anos 1990 e a sujeira que caminhavam junto ao undergroud musical. Ninguém se Importa, sinaliza bem como Jonathan Tadeu fez a transição entre seu ótimo e intimista Casa Vazia para o imediatismo sincero e cheio de contos amorosos de Queda Livre. Sua sonoridade, mais calçada nas guitarras, traz alguns dos melhores momentos do músico e mostra mudanças de forma importantes para sua carreira.

O clima, entretanto, permanece no limbo entre a depressão e a melancolia constantemente absorvidos em seu trabalho anterior. Jonathan, sempre atento ao sentimento momentâneo que muitas vezes pode ser traduzido como a “razão”, lida com a perda do amor pelo conformismo, a ansiedade da distância e a esperança de um retorno de alguma paixão. A questão da solidão abordada em Ninguém se Importa acompanha diversos trechos do trabalho como em Amour em que ele afirma que nunca vai desistir de um amor por amá-lo até o fim; sozinho, ele tenta aprender com sua própria existência antes de se importar com a dos outros.

O isolamento e a inércia em permanecer nesse estado depressivo e contemplativo passam a imagem de uma constante beleza que se desfaz a partir das escolhas individuais de cada um, como na belíssima balada com um arranjo soberbo Ato Falho, na qual ele afirma: “hoje eu quero errar do seu lado” – sabemos que a esperança está do seu lado nessa, enquanto podemos ver como esse sentimento é frágil em Diana Ross. Tadeu se expõe e não pede nada em troca, a não ser lágrimas de seus ouvintes – como não se emocionar com versos como “Eu tô sempre me repetindo/ Eu tô sempre fugindo/Especialmente quando trombo com alguém/ Tão perdido quanto eu”?

Se não bastasse toda a carga sentimental em seus versos, que mostram o sentido por trás do coletivo mineiro Geração Perdida, o trabalho instrumental mais bem pensado, menos Lo-Fi e que procura traduzir o vazio do peito de Jonathan através de acordes abertos tornam toda a experiência de seu disco extremamente emotiva. Como a faixa título, que segue como um mantra cíclico de seis minutos e nos lembra bons momentos de Built to Spill, a mais agitada Quase, um dos momentos mais verticais e interessantes de sua carreira ou o flerte com a música Eletrônica em Sorriso Besta com participação de Sentidor. São momentos desoladores e bonitos por serem interpretados como parte da vida, e não um drama que devemos carregar como um fardo.

Casa Vazia procurava abrir cômodos e estruturas de uma residência imaginária como analogia ao sentimentos expostos do músico. No entanto, se alguns momentos carregavam uma beleza asfixiante e quase angustiante, Queda Livre mostra que a tristeza faz parte da vida e que devemos entender o processo pelo qual estamos vivendo; o dialogo aberto da faixa de encerramento, O mundo é um lugar bonito e eu não tenho mais medo de morrer, explica todo o sentido por trás dessa obra. Ao final, Jonathan Tadeu se abre ainda mais e entra para o seleto grupo de vozes mineiras inesquecíveis ao construir uma narrativa própria para a cena na qual está inserido. Um disco para carregar junto dos momentos em que você se sentir mais sozinho.

(Queda Livre em uma faixa: Ninguém se Importa)

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.