Resenhas

Julian Casablancas + The Voidz – Tyranny

Primeiro trabalho junto a nova banda de apoio se mostra ousado e experimental, mas peca por excesso de grandiosidade

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Ano: 2014
Selo: Cult Records
# Faixas: 12
Estilos: Indie Rock, Experimental
Duração: 62:25
Nota: 2.5
Produção: Shawn Everett

As últimas excursões de The Strokes e seus membros, como Julian Casablancas, pelo Brasil, no Planeta Terra e Lollapalooza, respectivamente, polarizaram o seu público cativo. Alguns acharam que os nova iorquinos e seus projetos eram coisas do passado, outros ainda desconsideraram recentes lançamentos dos padrinhos do novo Indie – alguém lembra de Comedown Machine? -, enquanto os fãs mais fervorosos defendem com unhas e dentes a mítica banda. Seu eterno vocalista entra nesta conta e, agora com seu novo grupo de apoio, The Voidz, lança seu primeiro trabalho conjunto, Tiranny , disco que não tenta ser acessível na maior parte do tempo e mostra-se a maior saída dos padrões que conhecemos de alguém que tocou clássicos como Last Nite ou Juicebox como ganha-pão.

Logo, é muito fácil criticar o trabalho de Julian, pois uma primeira audição não favorece quem já tem uma idéia formada a seu respeito, seja essa positiva ou negativa. Se antes, quando o vocalista havia se lançado em aventuras solo, ele brincou bastante com os anos 1980 e suas referências “bregas”, agora um dos símbolos sexuais de uma geração e o primeiro Rock Star da era Indie tenta ser garageiro, barulhento e muito experimental. Se existe um elo que consegue dar coesão a toda a obra, ele é o experimentalismo: The Voidz constrói formas musicais complexas, joviais muitas vezes e viajadas que dão a base de apoio para o maior escapismo que Casablancas alcançou. Escute, por exemplo, a complexa, longa (11 minutos) e ousada, Human Sadness, que se tem algum resquício de Strokes, ele reside somente nas melodias de voz de seu frontman.

Podemos questionar se um disco de mais de uma hora favorece quem gostava ou desgostava do músico, assim como nos perguntar se algumas faixas não deveriam ser melhor trabalhadas ou processadas antes de lançadas, mas não podemos nunca dizer que Julian e The Voidz não tentaram. E provavelmente esta vontade impetuosa de mostrar algo novo, justificar sua vida a partir de algo recente e não dos louros do passado, seja o principal problema estrutural do disco como um todo. Enquanto alguns momentos são bastante insossos e sonolentos, como a abertura Take Me In Your Army ou Xerox, outros se mostram ótimas ideias, mas que derrapam em sua própria obsessão de grandiosidade, algo que nunca faltou em um trabalho com essa duração.

Father Electricity traz um certo tropicalismo ao disco, e faz uma versão alternativa, suja e mais barulhenta de Pala, disco do Friendly Fires. Sua levada é interessante, crescente e bastante divertida e pode se mostrar um dos melhores momentos de todo o disco facilmente, exigindo somente paciência em seus sete minutos somente. Johan Von Bronx é Strokes pós-moderno, menos produzido e bastante roqueiro, no entanto as linhas interessantes de sintetizadores e guitarras em faixas como Nintendo Blood ou Dare I Care ficam naquele meio termo entre o bom e o ruim e, logo, se mostram medíocres.

Obviamente, o fã mais animado pelo que Julian representou não verá muito problema em enfrentar um disco que exige muita concentração, abstração e vontade para ser encarado até o fim, no entanto, para outra parcela do público, que já está torcendo o nariz desde a fraca e triste apresentação deste conjunto no Brasil, o álbum pode se tornar descartável logo após as primeiras faixas. Um conselho? Escute-o até o fim, dê uma volta no bairro e escute-o novamente mais umas duas vezes ao menos, pois o excesso de informação, ruído e experimentalismo desordenado assusta, mas, sinceramente, o disco poderia ser muito pior do que é. Ganha pontos por ser o primeiro trabalho da vida de Julian que não é direto e objetivo, logo não peca pelo “mais do mesmo”, mas talvez só pela falta de coordenação – as ideias aqui são interessantes e poderiam ser melhor lapidadas, mas o conceito aqui é ser garageiro e experimental, e o resultado final está relacionado a esta escolha. Todavia, Tiranny dá um pouco de sobrevida ao vocalista, mas sem nunca nos fazer esquecer que aquele The Strokes realmente acabou.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.