Resenhas

Jungle – Jungle

Misterioso duo se consagra em elogiada estreia e traz o melhor do Soul moderno

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Ano: 2014
Selo: Xl
# Faixas: 12
Estilos: Neo Soul, R&B, Chillwave
Duração: 40:00
Nota: 4.0
Produção: Josh Lloyd-Watson, Tom McFarland.

A espera valeu a pena. Depois de tanto mistério ao redor dos produtores J e T, que haviam lançados sem o menor alarde dois clipes incríveis no ano passado, a bela cenografia em patins dançantes de The Heat e a igualmente estilosa dança infantil de Platoon, Jungle chega finalmente à sua estreia em disco da melhor forma possível: ritmada, contemporânea e harmônica em uma surpreendente mistura. Se sentimos referências muito bem estabelecidas em seus singles anteriores, partindo desde do Funk setentista pela sua guitarra bem marcada ou R&B pelos falsetes de voz, é quando conhecemos as outras facetas do agora ato – com sete pessoas – que sentimos o seu valor.

De forma análoga, se antes existia mistério ao redor do duo, agora sabemos que se trata dos ingleses Tom McFarland e Joshua Lloyd-Watson que fazem sim o que podemos chamar de Modern Soul ou Neo Soul. Ambos os termos expressam uma versão vanguardista do gênero famoso por belas vozes que traziam um som vindo da alma. Jungle é simplesmente a síntese do que podemos considerar moderno ou atual : Chillwave e o minimalismo de atos como The XX, o Funk que Daft Punk “renasceu” e o R&B que How to Dress Well parece conduzir com ímpeto irrestível. Todos estão aqui e se o disco já nascera com hits pré estabelecidos como os dois clipes já citados, além da excelente Time, outro vídeo com uma estética que já se mostra característica do grupo, o jogo já estava ganho, certo? Nada precisaria ser feito para que a obra fosse um sucesso, correto?

É neste aspecto que nos enganamos, pois a pressão por singles de sucesso parece ter dimínuido, permitindo que os produtores pudessem mostrar lados desconhecidos, mais obscuros e interessantes. Obviamente, ainda colocamos The Heat no repeat – como resistir a dança inerente que o seu refrão nos faz criar com pequenos passos na sala de casa ou que Time, mais expansiva, nos faz querer compartilhar, sincronizados, com uma balada? Busy Earning, outra faixa no disco, está fadada aos clubes e continua essa linha minimalista que oscila entre Dancing With Myself de Billy Idol e Lose Yourself to Dance de Daft Punk. No entanto, a psicodelia que acaba tangendo o resto das faixas é o que nos anima ainda mais.

Smoking Pixels, faixa instrumental que poderia muito bem estar em qualquer trilha-sonora de faroeste de Ernio Morricone, é uma viagem sem volta que só perde em sua curta duração, enquanto Julia traz o melhor dos sintetizadores de Justice, mas que servem mais de acompanhamento para um ritmo cativante auxiliado por um refrão para ser cantado a plenos pulmões do que um elemento condutor da música. Son of a Gun tem uma pegada meio Ratatat com sua guitarra psicodélica e Lemonade Lake é quase depressiva e minimalista, como se James Blake pudesse manter suas raizes a uma faixa que tem um ar praiero apesar de seu lado ainda sim melancólico.

A sensação que temos ao ouvir Jungle é que, se viemos pelo singles, saímos com um duo que sabe muito bem o que quer fazer: uma mistura peculiar entre a dança e o minimalismo com uma sensualidade intrínseca, transformando o Modern Soul em um verdadeiro caldeirão do melhor da música negra mas auxiliado pelo Chillwave viajante contemporâneo. Em um disco que você dificilmente pula a próxima música, o único problema reside em uma característica importante: os falsetes. Este modo de voz cativa nos primeiros instantes mas acaba limitando a expressividade das faixas da obra – seu timbre é constante e não permite explorar outras nuances dramáticas ou pessoais – e acabamos sentindo a mudança de clima mais pelos novos elementos a cada canção do propriamente novas formas de cantar ou se expressar do duo. Agora, um grupo de sete pessoas e com o sucesso batendo à porta, entendemos que tal problema não deve comprometer a sua evolução e não nos deixa dizer outra que coisa além de “que bela estreia”.

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BOM PARA QUEM OUVE: Pharrell, Jamiroquai, The xx
ARTISTA: Jungle
MARCADORES: Chillwave, Neo Soul, Ouça, R&B

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.