Resenhas

Junip – Junip

Ao invés de crescer musicalmente, músicos mostram maturidade como pessoas e criam álbum complexo e belo sem grandes complicações

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Ano: 2013
Selo: Mute
# Faixas: 10
Estilos: Indie Folk, Rock Alternativo, Folk Psicodélico
Duração: 42:35
Nota: 4.0

O tempo é um dos fatores determinantes para se entender o segundo e homônimo álbum da banda Junip. E ele aparece aqui em duas frentes: na rapidez com que ele passa e na maturidade que nos dá para lidarmos justamente com o primeiro fato. Isso se encaixa bem com os temas sensíveis que o trio vem trabalhado ao longo da carreira e com quem o acompanha desde o início, em 2005, e também amadureceu.

A abertura com Line of Fire já deixa isso bem claro. Com uma interessante progressão, a música acumula timbres e camadas em seu decorrer para, em meio ao instrumental e melodia calorosos, soltar em seu clímax os versos “With no one else around you, no one to understand you, no one to hear you calls” para contar que, em uma situação muito tensa, é compreensível que alguém desista de lutar. É triste, mas não faz-se drama. José González mantém uma postura mais observadora do que lamentosa em sua interpretação e isso vem de experiência de vida, não de insensibilidade.

A faixa seguinte segue as mesmas melodias bonitas com o violão de González ainda nesse mesmo espírito. Depois, vem So Clear, que injeta uma energia maior ao álbum junto de Villain, a faixa que encerra a primeira metade do disco. Entre as duas está a simpática Your Life Your Call com o refrão “stand up or enjoy your fall” – e quer mais maturidade do que ter uma atitude definitiva em frente a um problema?

O lado B começa com Walking Lightly, a faixa mais longa de todo Junip. Com pouca letra e muita coisa acontecendo, ela mantém uma cadência calorosa e envolvente, enquanto as próximas faixas continuam a misturar a crueza da vida e a beleza que ela pode ter.

Isso aparece no refrão iluminado de Head First e no assobio em meio à tensão do baixo de Baton. Por outro lado, Beginnings é a mais sombria de todo o disco e se arrasta por cinco minutos como uma ressaca melancólica, situação que muda com a última música do álbum.

After All Is Said and Done vem como uma conclusão aberta para a obra. Serena e doce, ela é reconfortante e resume toda aquela questão do tempo ao trazer pequenos sons de relógios fora do compasso da música, reproduzindo a tensão de quem vê o tempo correr e precisa lidar com isso da maneira que melhor pode.

Enquanto muitas bandas se esforçam tanto para parecerem maduras de um disco para o outro em sua sonoridade, Junip vem e traz o que sabe fazer de melhor em uma obra segura de si e sensível para saber comunicar sobre dificuldades aos outros. É um álbum para quem não espera que a beleza seja óbvia ou que haja muita distinção entre o que é estar bem ou o que é estar mal. Frente à vida, nos cabe vivê-la e cantar sobre seus significados.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.