A ideia de Justin Timberlake em dividir seu extenso The 20/20 Experience me pareceu muito sóbria e bem realizada, pois as duas partes de sua experiência juntas somam quase duas horas e meia de música que quando ouvidas de forma conjunta se tornam extremamente cansativas. Se a primeira etapa de seu novo disco consegue transformar sua uma hora e dez de duração em uma montanha de russa sonora, a segunda está mais para uma roda gigante bem vagarosa. Repetindo os erros da primeira produção e criando novos (em meio também a alguns acertos), o novo disco de Justin Timberlake derrapa em uma produção que cai em fórmulas que se estendem por infindáveis 74 minutos (com mais nove deles se contarmos a versão Deluxe).
O que tornava tão impressionante a primeira parte de The 20/20 parece se perder aqui e se esconder em saídas fáceis e pouca inventividade ao tratar os caminhos Pop escolhidos por JT naquela parte inicial. Enquanto a primeira metade se mostrava aventureira (brincando principalmente com o R&B, mas mesclando UK Garage, Hip Hop, Blues, Jazz e música latina, para citar só alguns), a segunda se mostra enclausurada no misto de Hip Hop e R&B, com grandes pretensões, mas com um resultado que não chega nem perto de alcançar isto. Não que esse confinamento seja ruim, mas ao propor um disco com faixas em que o tempo médio ultrapassa os cinco minutos, é simplesmente arriscado deixar todas as faixas estilisticamente tão próximas. No fim das contas 2/2 se torna uma obra extenuante e que por consequência abaixa a aproveitabilidade de The 20/20 Experience como um todo e nos faz questionar o por quê desta segunda parte.
Os alívios desta tal fórmula se apresentam como as faixas que mais valem a pena nesta segunda metade – canções como vibe Michael Jackson de Take Back The Night e You Got It One e o Gospel R&B de Drink You Away que por mais que caiam em algum momento no misto R&B/Hip Hop fogem da previsibilidade que toma conta de grande parte deste álbum. De certa forma é como se com este novo pedaço Justin reafirmasse sua nova fase, levando mais a fundo o que deixou implícito em na primeira parte de sua obra e buscando em alguns momentos traços deixados em Justified e Futuresex/Lovesounds. Mais uma vez JT foge dos hits óbvios, porém (infelizmente) investe na obviedade dessa mistura.
Se musicalmente o disco se torna repetitivo, liricamente não é diferente. Mais uma vez as letras não se apresentam como o ponto mais forte da equipe de produção de Justin. Sempre carregadas de conotações sexuais, o que deveria ser sexy às vezes se torna simplesmente vulgar. A abertura Gimme What I Don’t Know (I Want)se por um lado se mostra interessante sonoramente (com pitadas do Funk, Pop e R&B), por outro, mostra letras fracas e com metáforas obvias (comparando sua cama uma selva e no meio da faixa introduzindo samples com barulhos de animais). “She kill me with the coo coochie coochie coo” é outra pérola, tirada do TKO. Bom, você já deve imaginar o que essas palavras balbuciadas pelo Timbaland devem significar, não é?
Nem mesmo a participação de Drake (Cabaret) ou Jay Z (Murder) conseguem abrilhantar esses momentos de puro desinteresse do ouvinte – eles parecem na verdade ter o efeito quase oposto. O insistente beat box de Timbland mais uma vez se torna altamente dispensável e em alguns momentos inoportunos. Pretensioso e extremamente longo, o álbum exige muito mais do ouvinte do que deveria, não por ser um disco conceitual ou um com uma estética rebuscada, mas por simplesmente se tornar cansativo e extenso demais para uma obra Pop. Mesmo Justin sendo um vanguardista, não vejo aqui o músico propositalmente quebrando um paradigma, vejo um álbum ganancioso que acumula mais erros que acertos.
No geral The 20/20 Experience 2/2 só me faz questionar uma coisa: Justin realmente precisava criar uma segunda parte para uma obra tão boa quanto The 20/20 Experience 1/2? Obviamente a resposta é não. Se o músico tivesse parado ali seus lançamentos para este ano ou trabalhasse de forma menos autoindulgente neste lançamento, provavelmente as coisas seriam diferentes, mas este, infelizmente, se torna o disco mais dispensável de toda a carreira de um músico que esteve na vanguarda da música Pop há oito anos (bem como no começo deste).