Resenhas

KA – The Knight’s Gambit

Disco intenso e pesado apresenta a figura do rapper ao público. Conheça um pouco mais de um dos discos de Hip Hop mais minimalistas do ano.

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Ano: 2013
Selo: Iron Works Records
# Faixas: 11
Estilos: Hip Hop
Duração: 39:00
Nota: 3.5
Produção: KA

KA é uma figura tensa. Só de escutar os versos e compreender as suas batidas, podemos imaginar como rapper é. Nunca o vi, mas as únicas imagens que me vem a cabeça são as de um homem não tão jovem mas não tão velho assim, rígido como um pedra e que transmite a sua vida através de suas feições. Daquelas pessoas que só de olhar conseguimos capturar a sua essência e que os olhos denunciam uma vida totalmente distinta da sua. É esta sensação que temos ao ouvir The Knight’s Gambit, um disco confessional e pesado.

Longe de ser simples e fácil de entender, tal obra se mostra interessante em suas particularidades, na sua atmosfera hostíl e como aos poucos somos apresentados a vida do rapper. Pequenos excertos saídos de transmissões radiofônicas e televisivas, diálogos marcantes e representativos, dão um toque a mais para um disco que não mente quando suas batidas são despejadas como conta gotas contínuos, loops de poucos mais de 10 segundos que são repetidos compulsivamente para que a identidade do personagem seja absorvida. Tal repetição pode afastar os mais centrados em composições ritmicas de Hip Hop e em atmosferas mais alegres ou pelo menos mais agitadas

É direto quando se inicia Know It’s About em que Ka afirma que as pessoas sabem de quem ele se trata, alguém com dores e coragem (“That pain that gutter”). Longe da digestão fácil, o músico não parece rimar mas simplesmente contar a sua vida através de versos como um verdadeiro trovador. O tom funebre de cada faixa denuncia um ambiente longe da luz, como Barring The Likeness em que o mesmo afirma que “Born in lightness is hard to live righteous”, denunciando o determinismo que configurou a sua vida. Todas as dificuldades foram internalizadas e aprendidas, mudando-o diante da violência. Peace Akhi consuma tal pensamento, “pistols are the only peace I see” em uma faixa que parece abrir espaço para os cavaleiros do apocalypse em uma das batidas mais tensas, um relógio fazendo tick-tack e uma percussão minimalista.

Aliás, o pouco desenvolvimento de seus aspectos instrumentais são feitos para traduzir a crueldade de sua vida, poucas coisas parecem deixa-lo feliz e não consigo imaginar o rapper seguindo. Quando tenta descontrair, como nas excelentes Jungle (“I’am sorry for what I’am about to make”), canção com uma levada funkeada sexy ou Nothing Is com o diálogo “You got to risk everything, you got to be on the edge of your feet”, faixa inspirada em What’s Going On de Marvin Gaye, algo ainda parece puxa-lo para longe da suavidade. Como se a sua tranquilidade viesse por outros meios lisérgicos, podemos perceber que a paz não é tão sincera e que muita tristeza ainda vive dentro do rapper.

Discípulo de Mos Def, um dos mais importantes rappers independentes da história ( eterno Ford Perfect do Guia do Mochileiro das Galáxias) e que procurava versar de um jeito muito mais cru do que swingado, Ka surge como um sincero contador de histórias, estas que nem sempre são felizes ou fáceis de escutar. Dificilmente conseguirá chegar ao grande público devido as características pouco convidativas de sua composição minimalista e dark, mas para os persistentes ouvintes de Hip Hop é um prato cheio para o par de heaphones que normalmente os acompanha. Caso queira entrar nestas águas pouco convidativas mas recompensadoras, saiba que a paciência é o segredo.

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ARTISTA: Ka
MARCADORES: Hip Hop

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.