Resenhas

Kacy & Clayton e Marlon Williams – Plastic Bouquet

Duo canadense se junta a músico australiano para entregar disco que caminha entre o Folk e o Indie, permeado por atmosfera nostálgica

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Ano: 2020
Selo: New West Records
# Faixas: 11
Estilos: Folk, Indie Folk
Duração: 29'
Produção: Marlon Williams e Kacy Lee Anderson

Climazinho retrô, uma sonoridade de raízes interioranas e composições emocionadas: Plastic Bouquet é uma bonita coleção de músicas que reúne os talentos do duo canadense Kacy & Clayton e do australiano Marlon Williams. Dotado de uma musicalidade sempre palatável, o disco sabe agradar fãs – embora talvez apenas eles – do fôlego que a música Folk ganhou na última década e meia ao redor do globo.

Há mesmo uma certa universalidade ao longo da quase meia hora da audição do disco, que remete o ouvinte a tantas outras produções de cunho “caipira”, da sueca First Aid Kit à britânica Mumford and Sons (talvez a maior referência para o Indie Folk feito de 2009 para cá), passando por norte-americanos, de Ray Lamontagne a Kurt Vile, além de Fleet Foxes, Bowerbirds e The Lumineers. É aquele som munido de uma guitarra Country atemporal e de vozes que harmonizam em um coro convidativo e envolvente, algo que a música popular (ou mesmo “folclórica”) desenvolve muito antes de discos existirem.

Esse caráter nostálgico, ou mesmo sem um tempo muito bem definido, encontra uma estética Indie também de grande popularidade, feita por nomes que se aproveitam da linguagem do Pop de antigamente para criar algo novo (pense em Belle and Sebastian, ou mesmo Lana Del Rey). Plastic Bouquet é isso, a união de um Folk familiar e referencialmente interiorano com o som que domina trilhas sonoras do cinema independente inspirado em uma época que ou nem vivemos, ou éramos muito crianças para termos lembranças para além de um imaginário afetivo.

É relevante passar dois parágrafos esmiuçando a obra estilisticamente porque essa “aparência” que ela ostenta acaba sendo seu aspecto de maior valor. As letras narrativas são também simpáticas, mas é fácil se distrair com o reverb muito carregado nas vozes e esquecer que estamos ouvindo palavras sendo ditas, não apenas sons. A própria voz de Kacy, de um timbre muito particular, pode não ser para todos e também distrai mais do que cativa. Sendo assim, resta ao ouvinte se deleitar, ou ao menos se contentar, com um som bem feito que muitos concordarão ser bonito.

O problema é o de sempre com obras assim: é difícil afirmar até que ponto ela se sustenta quando sua principal característica é se parecer com tantas outras que conhecemos. Se o sorriso vem fácil ao ouvirmos “Last Burning Ember” ou “Light of Love”, músicas como “Old Fashioned Man” e a própria “Plastic Bouquet”, mesmo caprichadamente redondinhas, vêm com cara de repetição desde a primeira vez, tamanha a quantidade de maneirismos do Folk em cada uma delas. Você vai ouvir e achar bonito, mas só quem ainda se empolga com o revival de anos atrás vai querer escutar mais de uma vez.

(Plastic Bouquet em uma faixa: “Old Fashioned Man”)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.