Resenhas

Kaiser Chiefs – Stay Together

Banda inglesa dá guinada rumo ao Pop e acerta em cheio

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Ano: 2016
Selo: Caroline
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Pop Alternativo
Duração: 51:47
Nota: 4.0
Produção: Kaiser Chiefs, Brian Higgins

Cá entre nós, pessoal, Kaiser Chiefs nunca foi grande coisa, certo? Banda mediana, razoavelmente interessante em alguns poucos momentos, meio sem sentido entre companheiros de geração mais legais…Como a maioria destes contemporâneos, o grupo de Leeds agora vem com um “jeito de corpo”, termo que Caetano Veloso usava para definir essas mudanças de discurso/estética que ele mesmo empreendia em sua carreira, mas que não mudavam essencialmente o artista. Explicando: são as fases, os álbuns distintos, essas mudançinhas que vemos em gente como Keane, Mumford & Sons ou Coldplay, só pra ficarmos em exemplos mais recentes de bandas que deram um tempo em sua fórmula original e foram passear no parque Pop. Sim, a coincidência entre essa gente quando muda e dar uma aliviada no discurso engajado ou num formato sonoro e cair no Popão mais deslavado. Geralmente é legal quando acontece.

Pois bem, aconteceu com os “Kaisers”. Este Stay Together, sexto disco da carreira dos sujeitos, é um abraço sincero a sonoridades mais Pop, algo que faz bastante bem ao grupo. Fez bem porque o vocalista e letrista Ricky Wilson já parecia afeito a este movimento há algum tempo. Não por acaso, o sujeito passou a fazer parte do júri de “especialistas” do The Voice em 2013, mostrando sua boa vontade e proximidade com este terreno mais popular. Além disso, a própria obra de Kaiser Chiefs jamais chegou a se engajar totalmente em algo, ainda que o grupo tenha tentado e se aproximado em alguns momentos, especialmente no início da carreira. Mesmo assim, a existência de alguns hits dourados como Ruby, contagiante e festivo, mostra que, por trás desta fina camada rock’n’roller existia – e existe – uma banda capaz de agradar a novas audiências sem abrir mão de seus elementos essenciais.

Pra capitanear sua nau nessas águas, o grupo chamou Brian Higgins, responsável por hits de gente como Kylie Minogue, além de compositores e letristas que já assinaram canções de Rihanna, One Direction e outros artistas dessa praia. O que poderia ser catastrófico soa divertido e arejado. É perceptível o desejo do grupo de arejar a cabeça, se esbaldar numa pista de dança menos careta ou de derramar lágrimas em uma canção mais emocional. Os dois primeiros singles, Parachutes e Hole In My Soul são exemplos dessa nova disposição em fazer música “fácil” e “simples”. Hole é uma belezura, lembra alguma canção das encarnações mais recentes de New Order, com sonoridade luminosa, refrão pronto para os coros nos estádios e arenas do mundo e muito bem gravada.

O resto do disco não faz feio, pelo contrário. Good Clean Fun tem certo clima dançante e tangente a algo próximo do Reggae, enquanto Why Do You Do It To Me? investe no formato mais clássico de canção Pop e moderna, bem feita e com levada animadinha. Indoor Firework é outro exemplo de boa canção, na qual o talento de compositor dos sujeitos e do time de autores fica evidente. Press Rewind lembra as incursões de Queen em seu álbum Hot Space, de 1982, considerado por muitos o pior do quarteto inglês, mas que precisa reavaliação com urgência. O efeito para Kaiser Chiefs aqui é soar como uma formação tipo The Rapture, numa incursão interessante – e meio sem jeito – pelo terreno da Nu Disco. A força da boa composição se sobrepõe a uma eventual falta de jeito dos caras para a coisa. Há, claro, momentos equivocados: Happen In A Heartbeat e High Society são bem chatas e o balanço de Sunday Morning soa meio fora de lugar e a “épica” Still Waiting, com quase nove minutos, precisava de um encolhimento.

No saldo final, Stay Together é corajoso e simpático. Mostra que a banda não tem qualquer intenção de soar estagnada, sem medo de ousar e se aventurar por terrenos novidadeiros. Além do mais, é certo que a maioria dessas novas canções soará irresistível ao vivo. Ponto para os Kaisers. Ouça sem preconceitos.

(Stay Together em uma música: Hole In My Soul)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.