Cá entre nós, pessoal, Kaiser Chiefs nunca foi grande coisa, certo? Banda mediana, razoavelmente interessante em alguns poucos momentos, meio sem sentido entre companheiros de geração mais legais…Como a maioria destes contemporâneos, o grupo de Leeds agora vem com um “jeito de corpo”, termo que Caetano Veloso usava para definir essas mudanças de discurso/estética que ele mesmo empreendia em sua carreira, mas que não mudavam essencialmente o artista. Explicando: são as fases, os álbuns distintos, essas mudançinhas que vemos em gente como Keane, Mumford & Sons ou Coldplay, só pra ficarmos em exemplos mais recentes de bandas que deram um tempo em sua fórmula original e foram passear no parque Pop. Sim, a coincidência entre essa gente quando muda e dar uma aliviada no discurso engajado ou num formato sonoro e cair no Popão mais deslavado. Geralmente é legal quando acontece.
Pois bem, aconteceu com os “Kaisers”. Este Stay Together, sexto disco da carreira dos sujeitos, é um abraço sincero a sonoridades mais Pop, algo que faz bastante bem ao grupo. Fez bem porque o vocalista e letrista Ricky Wilson já parecia afeito a este movimento há algum tempo. Não por acaso, o sujeito passou a fazer parte do júri de “especialistas” do The Voice em 2013, mostrando sua boa vontade e proximidade com este terreno mais popular. Além disso, a própria obra de Kaiser Chiefs jamais chegou a se engajar totalmente em algo, ainda que o grupo tenha tentado e se aproximado em alguns momentos, especialmente no início da carreira. Mesmo assim, a existência de alguns hits dourados como Ruby, contagiante e festivo, mostra que, por trás desta fina camada rock’n’roller existia – e existe – uma banda capaz de agradar a novas audiências sem abrir mão de seus elementos essenciais.
Pra capitanear sua nau nessas águas, o grupo chamou Brian Higgins, responsável por hits de gente como Kylie Minogue, além de compositores e letristas que já assinaram canções de Rihanna, One Direction e outros artistas dessa praia. O que poderia ser catastrófico soa divertido e arejado. É perceptível o desejo do grupo de arejar a cabeça, se esbaldar numa pista de dança menos careta ou de derramar lágrimas em uma canção mais emocional. Os dois primeiros singles, Parachutes e Hole In My Soul são exemplos dessa nova disposição em fazer música “fácil” e “simples”. Hole é uma belezura, lembra alguma canção das encarnações mais recentes de New Order, com sonoridade luminosa, refrão pronto para os coros nos estádios e arenas do mundo e muito bem gravada.
O resto do disco não faz feio, pelo contrário. Good Clean Fun tem certo clima dançante e tangente a algo próximo do Reggae, enquanto Why Do You Do It To Me? investe no formato mais clássico de canção Pop e moderna, bem feita e com levada animadinha. Indoor Firework é outro exemplo de boa canção, na qual o talento de compositor dos sujeitos e do time de autores fica evidente. Press Rewind lembra as incursões de Queen em seu álbum Hot Space, de 1982, considerado por muitos o pior do quarteto inglês, mas que precisa reavaliação com urgência. O efeito para Kaiser Chiefs aqui é soar como uma formação tipo The Rapture, numa incursão interessante – e meio sem jeito – pelo terreno da Nu Disco. A força da boa composição se sobrepõe a uma eventual falta de jeito dos caras para a coisa. Há, claro, momentos equivocados: Happen In A Heartbeat e High Society são bem chatas e o balanço de Sunday Morning soa meio fora de lugar e a “épica” Still Waiting, com quase nove minutos, precisava de um encolhimento.
No saldo final, Stay Together é corajoso e simpático. Mostra que a banda não tem qualquer intenção de soar estagnada, sem medo de ousar e se aventurar por terrenos novidadeiros. Além do mais, é certo que a maioria dessas novas canções soará irresistível ao vivo. Ponto para os Kaisers. Ouça sem preconceitos.
(Stay Together em uma música: Hole In My Soul)