Resenhas

Kamasi Washington – The Epic

Monumental disco tripo acumula quase três horas de uma epopeia jazzística

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Ano: 2015
Selo: Brainfeeder Records
# Faixas: 17
Estilos: Jazz, Free Jazz, Jazz Fusion
Duração: 2h 53'
Nota: 4.5
Produção: Kamasi Washington

Nomear um disco como The Epic pode parecer de início algo bem arrogante por parte de Kamasi Washington e, de fato, seria bem pretensioso chamá-lo assim se o que o saxofonista entregasse não fosse nada menos que “épico”. Sim, o resultado deste álbum não tem nada a ver com orgulho ou vaidade, mas com o reconhecimento de um trabalho realmente heroico.

Apesar de já acumular mais de uma década de carreira, o músico começou só agora a se dedicar a seus próprios projetos. As credenciais para estampar seu nome na capa de um álbum foram merecidas, ainda mais quando nota-se que Kamasi esteve envolvido em dois dos projetos mais importantes dos últimos sete meses: You’re Dead de Flying Lotus e To Pimp A Butterfly de Kendrick Lamar – e por falar em FlyLo, The Epic foi lançado pelo selo do produtor, Brainfeeder Records. Com motivos de sobra para valer a pena pelo menos ouvir o que Washington criou, o apreciar de toda obra se mostra uma experiência única e que vale cada segundo.

Por quase três horas, divididas em 17 faixas, o monumental álbum percorre uma epopeia jazzística que deixaria até os grandes nomes do estilo orgulhosos. Apesar de longa duração, o disco é bem amigável ao ouvinte e por ser dividido em três partes, possibilita a audição de cada trecho individualmente, sem que se perca o contexto – então, não se preocupe em ouvi-lo de uma só vez, dê tempo para cada parte e aprecie-as como capítulos dentro desta grande epopeia.

Em média, cada uma das músicas acumula cerca de dez minutos, duração suficiente para o multi-instrumentista criar momentos bem distintos dentro de cada uma delas e trazer uma extravagante diversidade a seus arranjos. Não à toa, o músico convocou um time de peso para orquestrar: são 20 membros de um coral, 32 membros de um conjunto de cordas, dois bateristas, dois baixistas (incluindo Thundercat), um pianista, um tecladista, um conjunto de sopro, o ótimo vocal de Patrice Quinn – além, é claro, do saxofone de Washington. Com tudo isso em mãos, o músico cria dentro de uma miríade de possibilidades algo tão ambicioso e hiperbólico quanto o título do álbum.

Essas três horas de duração se justificam com músicas boas e diversas, cada uma trazendo algum novo elemento ou uma visão diferente de algum clássico do estilo. Free Jazz, Soul Jazz, Bop, Jazz Fusion e outros tantos subgêneros amalgamam-se formando esse épica maçaroca. Há ecos de John Coltrane, Miles Davis e outros mestres, mas há principalmente a presença e a marca de Kamasi e seu saxofone, que ora se jogam em uma virtuosa cascata de notas, ora usam o poder do instrumento para criar sons altos, dissonantes e gritantes.

As faixas não seguem um modelo ou algo do tipo, mas ainda assim há algumas sintetizam muito bem o espírito do álbum. Caso de The Next Step. Ela começa como algo mais clássico, com um arranjo guiado ao piano e saxofone, e lentamente vai se aventurando por outros elementos Jazz e incorporando em seu arranjo coral, órgão e bateria. O resultado pendula entre crescendos épicos e momentos mais discretos, como se o músico brincasse em ao alterna-los segundo sua vontade. Outras faixas, como Miss Understanding, Henrietta Our Hero, The Magnificent 7 e Re Run Home também mostram essas ondulações na linearidade das músicas, além da eficiência com que o músico consegue andar pelos mais variados terrenos do estilo.

The Epic não poderia ter um nome menos certeiro. Tudo nele soa épico: os solos, os temas, os momentos dissonantes do saxofone, os arranjos do Jazz, a grandiosidade gerada pelos conjuntos de cordas, metais e o coral – isso sem contar a produção e mixagem que são igualmente incríveis. O balanceamento entre o improviso, experimentalismo e “lugares comuns” no estilo é muito bem feito e garante ao disco, mesmo ao decorrer de três horas, uma facilidade em chegar aos ouvidos de quem o escuta.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts