Resenhas

Karen O – Crush Songs

Primeiro trabalho solo da artista é a gênese e a síntese de sua carreira até agora

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Ano: 2014
Selo: Cult Records
# Faixas: 15
Estilos: Singer-Songwriter, Lo-Fi
Duração: 25:25
Nota: 4.0

O primeiro álbum solo de Karen O parece ser um excelente exemplo da síntese (ou seria gênese?) de sua carreira até agora. Após ganhar reconhecimento mundial ao lado de Yeah Yeah Yeahs e de participar de alguns projetos paralelos, como a trilha sonora da versão cinematografica de Onde Vivem Os Monstros (Where The Wild Things Are, 2009) e do drama Ela (Her, 2013), a artista finalmente chega com um projeto solo, intitulado Crush Songs, que conta com a crueza e os temas agressivos do primeiro somados à delicadeza e melancolia dos segundos.

Seu nome estampado na capa, aparentemente feita de caneta à mão, denota um teor pessoal, íntimo e cru deste registro. “Registro”, por sua vez, também me parece uma descrição justa de Crush Songs, à medida que o álbum elenca uma série de ideias rápidas (poucas faixas ultrapassam os dois minutos, nunca chegando a três), sendo, na verdade, uma “fita demo” gravada em casa (o ruído de fita e um ou outro timbre rasgado pela falta de equalização não me deixam mentir), datado de 2007 (época em que a musicista enfrentava problemas em seu relacionamento com o diretor Spike Jonze), ao invés de ser propriamente um trabalho pronto para vir a público.

O que é ótimo! Em geral, álbuns cheios de ruído, protagonizados pelo artista com seu violão (ou guitarra) me remetem a uma necessidade imediata de criação, em geral muito emotiva, que não pode esperar para passar por filtros demais. Alguns ótimos exemplos dessa vertente (digamos assim) me vem à cabeça, como os trabalhos de John Frusciante, Kiran Leonard, Bon Iver, e uma ou outra canção de PJ Harvey. Com Karen O e sua nova/antiga empreitada, que serve de “trilha sonora” para aventuras amorosas” não é diferente.

Embora pareça fácil que seus fãs de outras épocas gostem bastante do álbum que só veio à tona agora, não vejo grandes impedimentos para que esse trabalho atraia uma nova parcela de público. O único obstáculo é justamente a estratégia inversa que Karen O faz ao voltar no tempo, com uma produção Lo-fi e arranjos ainda muito primordiais nas canções, que não deixam espaço para refrões. De qualquer modo, recomendo a audição, que vai ser rápida: de preferência, pare o que estiver fazendo e feche os olhos, para se deixar levar pelo clima extremamente pessoal de Crush Songs. Trilha sonora acertada para momentos melancólicos.

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ARTISTA: Karen O

Autor:

é músico e escreve sobre arte