Em sua discografia, o produtor carioca Kassin coleciona discos que primam tanto pela qualidade quanto pela experimentação. Responsável por Ventura de Los Hermanos, um hinário Indie, e por diversos outros álbuns fundamentais no repertório brasileiro recente, os trabalhos que ele assina tem em um comum essa característica de saber administrar bem as diversas referências que traz a mesa, não se tornando necessariamente um trabalho exageradamente experimental nem uma obra enquadrada em uma estética sem possibilidades de sair deste quadrado. Agora, Kassin lança seu terceiro disco autoral e nessa experiência mostra na prática aquilo que adquiriu em sua vivência rica de produção para outros artistas.
Relax é uma salada de frutas, porém não em seu sentido mais óbvio. É claro que as diversas referências e elementos acabam sustentando a metáfora, mas a característica que mais salta aos ouvidos neste caso é o frescor. O trabalho de Kassin é tão preciso e controlado que as frequências e timbres quase massageiam nossos ouvidos, compondo um conjunto orgânico.
Com referências sessentistas e setentistas, o produtor vai delineando seu registro com timbre típicos como Rhodes e flauta além de contar com a participação do famoso intérprete Hyldon. Além disso, Kassin pega sua expertise sobre o Pop e remodela aquelas baladas Jovem Guarda com pitadas de Soul Music e Indie. Tudo isso de forma dosada, sem exageros e com muita suavidade.
Revelando o que havia de mais moderno nos anos 60, Kassin abre o disco com O Anestesista, uma espécie de bossa-nova despojada que acaba lembrando referências modernas como Mombojó. O single Seria o Donut? trabalha bem as frequências graves para criar uma malemolência suingada que desperta o mais sutil balançar de cabeça. Já a faixa-título do registro, produz uma envolvente batida em meio a Rhodes reverberados e melodias de sopro que deixam claras o significado da palavra Soul.
Comprimidos Demais nos envolve com texturas etéreas em uma balada irônica sobre o Amor e que, ironicamente, nos deixa apaixonados. Coisinha Estúpida, canção da dupla Leno e Lillian ganha uma roupagem minimalista com a participação de Clarice Falcão. Por fim, Taxidermia encerra a suavidade do disco com referências notáveis do duo francês Air em seus vocais reverberados e fantasmagóricos.
Relax cumpre o que promete, relaxando o ouvinte por meio do caldeirão de referências do produtor carioca e o refrescando com a pureza de suas composições. Vale a pena uma escutada para aqueles que só conhecem o trabalho do produtor por trás de nomes como Los Hermanos. Temos aqui um disco natural, no sentido mais simples do termo.
(Relax em uma faixa: Seria o Donut?)