Se nos anos 1970, nos primórdios do heavy metal, a música de horror (vamos chamá-la assim) era feita de homens cabeludos e riffs de guitarra furiosos, agora, conforme avançamos na segunda década de 2020, o estilo assume uma sonoridade com câmaras vazias, cheias de delay e reverb e vozes sussurradas. Waiting Room, o novo álbum da estadunidense Kathryn Mohr, exibe uma música tenebrosa , uma trilha sonora para lugares liminares – como se estivéssemos prestes a entrar no Black Lodge de David Lynch.
Kathryn está na mesma linhagem de artistas como Grouper, que fazem uma música em processo de degradação, seus álbuns soando como fitas cassetes que sobreviveram a alguma tragédia do passado. Na capa de Waiting Room, temos uma imagem do subconsciente, onde estão visíveis as últimas lâmpadas de algum corredor, que vai dar em algum porão que enfim desemboca em um território desconhecido ou proibido. A sensação que temos é a de que, ao dar play no álbum, estamos prestes a mergulhar no vazio.
Em Waiting Room, as músicas variam em humor, mas sempre trazem em comum algum elemento de obscuridade. A primeira faixa, “Diver”, por exemplo, tem uma melodia doce, como se estivesse sendo cantada por Angelo De Augustine. A letra, no entanto, adverte: “this comfort is bad for your health”. Sem demora, momentos trágicos vão aparecendo: acidentes na autoestrada, pessoas contaminadas por metais pesados, figuras desmembradas, e outras coisas terríveis. Em “Elevator”, com vozes e guitarras encobertas pela saturação, Mohr canta sob a perspectiva de alguém que perde um braço no poço do elevador.
Por vezes, Waiting Room fica próximo demais de suas referências. Caso da própria “Elevator”, que parece saída diretamente de algum álbum de PJ Harvey. Em vários outros momentos, as referências tomam o primeiro lugar na fila, e nossa audição passa inevitavelmente por elas: Björk, Sonic Youth, Grouper – entre outros exemplos possíveis – formam um time que, ao mesmo tempo, apadrinha e rouba a cena em Waiting Room. No entanto, chegando em bom momento, onde o território musical demarcado por nomes como Ethel Cain, Reverend Kristyn Michael Hayter ou Margaret Chardiet está em bastante evidência, Mohrs e seu Waiting Room despontam como uma das referências desta geração.
(Waiting Room em uma faixa: “Elevator”)