Resenhas

Kevin Abstract – Arizona Baby

Kevin Abstract aproveita o espaço de sua carreira solo para divagar sobre questões, histórias e dramas pessoais

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Ano: 2019
Selo: RCA
# Faixas: 11
Estilos: Hip Hop, Pop
Duração: 32:24
Nota: 3.5

Quando BROCKHAMPTON surgiu, pareceu causar a mesma sensação que a do nascimento do coletivo OddFuture, não apenas pela inspiração assumida no seu som e sua vibe, mas por trazer consigo a imagem de um novo momento para o Rap, de uma espécie de força indomável que apenas jovens artistas unidos em grupo são capazes. O tempo passou, o grupo amadureceu, contratos com gravadoras foram assinados e tretas foram superadas. E assim, também aos poucos o grupo foi germinando suas sementes e gerando carreiras solo promissoras. Este ARIZONA BABY, de Kevin Abstract, é o mais novo exemplar desta linhagem.

No entanto, ARIZONA BABY não parece ser a marca de nenhum momento de transição, mas a definição da estabilidade de outra geração. Com um nascimento fracionado ao longos de vários EPs, que foram revelando aos poucos cada faixa deste álbum completo, ARIZONA BABY nasce dentro de uma lógica que é possível apenas na era da música digital. Mais do que isso: o álbum de Kevin Abstract marca um novo momento para o Rap porque nasce sob um cenário pós-Flower Boy, em que é possível falar abertamente sobre homossexualidade, trazendo a vida amorosa do artista como pressuposto, e não como problemática central.

ARIZONA BABY é uma espécie de diário, com letras que falam em primeira pessoa, cheio de confissões, arrependimentos e esperanças, e que explora meticulosamente as ansiedades mais insistentes do rapper. A mágoa de crescer numa cidade pequena e conservadora, a opressão de sua família mórmon, a dificuldade em lidar com a fama e, é claro, a vida ao lado do seu namorado.

O clima das faixas, de timbres metálicos, melodias sinuosas e letras angustiadas, invoca nomes do calibre de Andre 3000 e Frank Ocean. Por outro lado, a produção de Jack Antonoff parece puxar o trabalho de Kevin Abstract para o campo de mainstream, adicionando camadas multicoloridas da música Pop por aqui. O resultado é uma espécie de retrato íntimo transformado em música cosmopolita contemporânea.

Não por acaso, a capa do trabalho, que traz um artista de cara limpa, suado, exibindo um sorriso branco de dentes tortos, parece ser a tradução visual ideal para este momento: a de um relato pessoal esforçado e sem grandes apelos, bastante convencional em certo sentido, mas, por isso mesmo, bastante autêntico.

(ARIZONA BABY em uma música: Joyride)

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BOM PARA QUEM OUVE: Andre 3000, Frank Ocean, Rejjie Snow
MARCADORES: Hip Hop, Pop

Autor:

é músico e escreve sobre arte