Ao contrário do que o título de City Music – o quarto álbum do músico norte americano Kevin Morby – indica, este não é um trabalho sobre a cidade. Não é, ao menos, um álbum sobre a experiência urbana e sua vida cotidiana. É, ao invés disso, uma perspectiva religiosa sobre a aura mágica das luzes neon que brilham refletidas no céu nublado, e sobre o desapontamento de se viver uma vida solitária enquanto se está cercado de gente.
Flannery, a sexta faixa na playlist do trabalho, que não é uma música e sim uma narração de um trecho do livro The Violent Bear It Away, entrega o conceito acerca do qual City Music vai se expandir de forma espiral: a angústia é uma consequência do mundo moderno, onde vive-se uma vida de tensão entre a cidade e o campo na busca das soluções para estilos de vida conflitantes.
Não é difícil imaginar Morby vestido de terno, gravata e chapéu de cowboy tocando suas músicas no culto dominical de uma igreja protestante no interior dos Estados Unidos. Essa é a mistura de influências que City Music proporciona ao seu ouvinte. Existe uma herança distante da música Gospel, o desejo pela contaminação espiritual, a apatia de um jovem entediado pela sua vida no interior e o desejo romantizado pela cidade grande. Não à toa, Kevin Morby une ao mesmo espectro sonoro do Country Americana tipicamente estadunidense a herança de bandas como Ramones e Lou Reed. O músico, ao lado de Andy Shauf e Kurt Vile, configura a tríplice essencial para se entender o que significa viver a América do Norte profunda nos dias de hoje.
O trabalho, afinal, desenvolve-se sob um ritmo moroso e meditativo, exibindo uma faceta mais desgastada de Morby do que vimos em Singing Saw. Em City Music a nudez da banalidade do cotidiano é exibido por Morby de maneira lírica, o que o transforma em um dos pontos altos na carreira do músico.
(City Music em uma música: Come To Me Now)
