Resenhas

Kevin Morby – Singing Saw

Álbum de Folk americano é o mais interessante da carreira do músico até então

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Ano: 2016
Selo: Dead Oceans
# Faixas: 9
Estilos: Folk, Americana, Indie
Duração: 43:25
Nota: 4.5
Produção: Sam Cohen, Kevin Morby

Kevin Morby, ao contrário do que sua carinha de bebê pode sugerir, não é necessariamente um novato no mundo da música. Se considerarmos os álbuns de sua carreira solo, somados aos outros lançados com Woods (banda na qual atuava como baixista) e The Babies (em que figurava como co-vocalista), Morby já acumula nove trabalhos em seu currículo.

Dito assim, não parece grande coisa que Singing Saw seja tão bom como é. Mas é. Sem querer parecer místico em demasia, muito menos determinista, o Retorno de Saturno de Morby parece ter configurado sua maturidade musical com maestria: seu novo lançamento é, ao mesmo tempo, o ápice de sua criatividade e seu trabalho mais profundo.

Aproveitando a analogia dicotômica que acabei de fazer entre ápice e profundidade, creio que vale apontar que a concepção de Singing Saw acontece justamente pelo apreço que Morby, digamos assim, nutre por tais idiossincrasias. Seu título, assim como sua faixa axial, fazem referência a um serrote, ou seja, a uma ferramenta utilitária que pode ser transfigurada tanto em um aparato destrutivo quanto em um instrumento musical de sonoridade aguda e etérea.

Outros exemplos presentes no álbum decorrem do mesmo tema: Ferris Wheel metaforiza tanto os altos e baixos de um passeio em uma roda gigante quanto a trajetória circular firme, conquanto sem propósito, de um carrossel. I Have Been to the Moutain diz respeito ao episódio da morte do jovem Eric Garner (menos por uma posição política do que pela necessidade de expressar poeticamente o choque de se presenciar um assassinato). Destroyer, por sua vez, canta a perda das mulheres em sua vida. Em geral, a essência de Singing Saw é esta: um mundo distorcido, ora surreal, ora hiperrealista, no qual a dor é cantada com doçura.

Grande parte do mérito de Singing Saw é a semelhança com dois grandes lançamentos recentes da música alternativa, a saber, as baladas românticas de Tobias Jesso Jr. e o Rock Americana de Kurt Vile. Kevin Morby se coloca, de algum modo, no meio do caminho entre ambas as expressões, embora dificilmente se reduza a estes predicados. O que temos aqui é uma mescla perfeita da expressão Singer Songwriter do Folk e o Indie estadunidense, uma fórmula que configura um dos lançamentos mais interessantes do ano até agora.

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BOM PARA QUEM OUVE: Tobias Jesso Jr., Woods, Kurt Vile
ARTISTA: Kevin Morby
MARCADORES: Americana, Folk, Indie, Ouça

Autor:

é músico e escreve sobre arte