Resenhas

Khruangbin – A LA SALA

Quarto disco do trio americano explora diferentes minúcias – e traz pequenas surpresas – dentro de uma estética já consolidada

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Ano: 2024
Selo: Dead Oceans
# Faixas: 12
Estilos: Rock Psicodélico, Surf Rock
Duração: 39'
Produção: Mark Speer e Steve Christensen

Há bandas que conseguem ser menos reféns da alta velocidade, dos cronogramas insanos da indústria e do dilúvio de informações – negando a urgência de se reinventar a cada instante e, ainda assim, escapar de uma zona de conforto imutável. O trio americano Khruangbin é um ótimo exemplo de como a investigação e a experimentação em uma dinâmica própria são capazes de proporcionar discos relevantes e imersivos.

O grupo se estabeleceu dentro de uma tradição revival do rock psicodélico, porém com foco maior na minúcia e potência de um bom power trio. Nada de sessions lisérgicas e improvisos infinitos – o universo do Khruangbin existe em espaços silenciosos precisamente calculados. Contudo, mesmo dentro dessa precisão, há espaço para diferentes expressões, e uma rápida repassada pela discografia do grupo nos expõe isso com facilidade. De trabalhos concisos feitos exclusivamente pelo trio (Con Todo El Mondo, 2018) passando por colaborações com engenheiros de som especializados em dub (Hasta El Cielo, 2019) e com oo cantor maliano Vieux Farka Touré (Ali, 2022), o trio conseguiu consolidar sua identidade sem, digamos, precisarapelar. Agora, com um novo disco no mundo, o Khruangbin dá os próximos passos entendendo que outros cantos do rock psicodélico podem ser explorados sem necessariamente fugir de sua identidade.

A LA SALA, quarto disco da banda, é uma dosagem de elementos que demonstra um ímpeto de propor novos caminhos dentro da suavidade. O trabalho de mixagem, indispensável para a identidade de Khruangbin, foi assinado novamente por Steve Christensen, que já havia trabalhado em outros discos do trio. Assim, o repertório soa familiar nesse sentido, porém, durante as 10 faixas, somos conduzidos por um cenário no qual as particularidades de cada arranjo nos guiam por caminhos diferentes. Às vezes, dispensa-se uma estrutura rítmica rígida para compor texturas mais esparsas; em outros momentos, a banda se compromete com a estabilidade do power trio, sem causar uma sensação de tédio. Seja qual for o momento, há sempre algo que pode ser descoberto em suas faixas. A LA SALA mostra como essas descobertas ocorrem mesmo dentro de zonas de conforto, como nossas salas de estar.

Os grilos e a paisagem sonora de campo são os primeiros sons que introduzem o disco. A faixa de abertura “Fifteen Fifty-Three” cumpre o papel de nos situar dentro do aconchego de Khruangbin, sensação que se instaura logo que os primeiros acordes de guitarra se apresentam. “Farolim de Felgueiras” mergulha o ouvinte em camadas e camadas imersivas e desprovidas de um ritmo rígido – um interessante momento dentro da reinvenção do grupo. “Pon Pón”, por sua vez, se concentra no suingue de pista, sutil, porém dançante e marcante. “Hold Me Up (Thank You)” complementa o som do grupo com guitarras típicas do oeste africano. Já “A Love International” é um groove introspectivo, algo que põe o ouvinte a filosofar sobre a própria vida sem perder o balanço.

A LA SALA é um trabalho que sabe ser “mais do mesmo” e ativar possibilidades de exploração dentro de uma identidade própria. Sem grandes malabarismos inventivos, Khruangbin constrói um repertório sólido e que consegue se reinventar a partir de sutilezas. É uma banda convicta de sua trajetória e proposta, mas que sabe arejar seu som em meio a um infinito universo de minúcias.

(A LA SALA em uma faixa: “Pon Pón”)

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BOM PARA QUEM OUVE: Khruangbin
ARTISTA: Khruangbin

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique