Resenhas

Kishi Bashi – Sonderlust

Cantor e compositor solta disco cheio de alternativas Pop

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Ano: 2016
Selo: Joyful Noise
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Pop Alternativo, Indie Rock
Duração: 41:13
Nota: 4.0
Produção: Kaoru Ishibachi e Chris Taylor

Kaoru Ishibashi, 41 anos completados em novembro último, é o próprio Kishi Bashi, num uso malandro e moderninho de seu nome de batismo nipo-americano. Nascido em Seattle, a praia de nosso amigo é o Rock Alternativo melodioso, tecladeiro, dançante, sinfônico e esquisitinho, típico de quem passou um bom tempo da juventude ouvindo bandas como Electric Light Orchestra ou Grandaddy. Versado no uso do violino dentro da música Pop e formado em colégios de música prestigiosos da Costa Leste, Kaoru tem uma carreira ascendente. Passou um bom tempo como integrante do combo extraordinário Of Montreal, tocou com gente legal como Regina Spektor e Sondre Lerche e já está no terceiro disco usando o nome atual.

Sonderlust não foge a esta regra, a de música colorida, inteligente e com viés psicodélico contemporâneo do termo. É legal, agrada e tem coisas interessantes. As dez faixas do álbum são todas cheias de detalhes instrumentais que cativam o ouvinte. Um coro infantil aqui, um teclado com timbre legal ali, mas a coesão das canções é o grande atrativo por aqui. Com tanta atenção dada a chantillys instrumentais, seria fácil perder algo essencial como refrãos, estruturas ou mesmo vocais. Kishi Bashi tem cuidado com essa argamassa musical, não deixando de lado o que é mais importante nessa coisa de fazer canções Pop: ter, de fato, uma boa melodia, um bom refrão. Sem eles, nada acessório pode cobrir o buraco que se abre, rumo a um abismo que pode custar o mérito do disco como um todo. Como dissemos, o sujeito é esperto o bastante para não deixar isso acontecer.

Já logo na segunda faixa é possível encontrar o melhor espécime dessa liga sonora: Hey Big Star surge na passarela com uma levada synthdisco que a ELO forjou com pioneirismo lá por 1979 e que, por uma dessas ironias sonoras, jamais envelheceu. A prova é uma canção como essa, na qual cabem vocais em falsete, teclados que vão em direções distintas, com colorações em neon. A melodia, ponto forte de Kishi, é outro ponto de atração aqui. Outro ponto de destaque é a sonoridade de video game que tem a faixa seguinte, Say Yeah, que tem sintetizadores aquáticos que parecem trilha sonora de Flippers/Arcades lá por volta de 1982/83. Mais que isso: tem flautas, vocais novamente em falsete e uma riqueza instrumental rara nesses dias tão econômicos de hoje. Não se assuste com referenciais de trinta e tantos anos porque eles, repito, permanecem jovens, coloridos e redivivos justamente pela ação de artistas como este.

Can’t Let Go, Juno é canção que parece privilégio de bandas pipocantes como Kero Kero Bonito, misturando abordagem visual que caberia em mangás e animes, além de referencial tecnopop oitentista revisitado e reempacotado como se fosse um grupo de Pikachus musicais tocando em algum palco produzido por Sonic, The Hedgehog. Violinos em ebulição dão o tom em Ode To My Next Life, que tem uma melodia dramática de fim de filme B, no qual o herói ganhou, salvou a mocinha, que vai ficar com ele e o vilão sumiu numa explosão nuclear do bem, que não vai poluir nem matar ninguém. Who’d You Kill e Statues In A Galery têm levadas mais limpas, mas dançantes e articuladas, e abrem caminho para os timbres A-ha em Flame On Flame, uma balada em câmera lente e a belezura solene de Honeybody, outra canção mais climática, com um flerte inesperado com algo de R&B sessentista.

A esta altura do ano, a chegada de um disco como este pode atrapalhar a confecção das listas de melhores momentos do ano. Uma produção sólida, cheia de acertos e um nome pra gente ficar de olho e acompanhar sempre que lançar algo. Belezinha.

(Sonderlust em uma música: Hey Big Star)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.