Resenhas

Kiwi Jr. – Cooler Returns

Em segundo disco, banda canadense acerta ao apostar no lado mais despreocupado e divertido do Indie

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Ano: 2021
Selo: Sub Pop
# Faixas: 13
Estilos: Indie Rock, Rock Alternativo
Duração: 36'
Produção: Kiwi Jr.

Longe de mim querer apontar o clichê da “salvação do Rock”, mas, olha, Kiwi Jr. dá um jeito de trazer um fôlego interessante para o lado mais Indie e Alternativo do gênero, justamente ao trabalhar aquilo que os tais “salvadores” raramente levam em consideração: O lado mais leve e irreverente dessa estética, incorporando até mesmo o absurdo em suas composições. É com esse espírito que a banda canadense apresenta Cooler Returns, seu carismático segundo álbum.

Nele, quem já olhou para um disco de Indie Rock e o chamou de favorito em algum passado – talvez distante – encontrará um apanhado de canções tão curtinhas quanto simpáticas, daquelas que você logo aprende a cantar e se vê completando o refrão (às vezes mentalmente, às vezes acidentalmente em voz alta) ainda na primeira audição. Não só é tudo muito bem-feitinho, mas é também convidativo por seu caráter tão amigável, ou mesmo inofensivo.

Talvez seja aí que Kiwi Jr. encontre seu lugar no zeitgeist. Suas letras, que promovem pequenas narrativas desencanadas de fazer muito sentido, estão em sintonia com uma época na qual – quem diria? – é bem visto ser respeitoso, ao contrário do Rock ultrajante do passado. É uma música feita por quem os antigos chamavam de “bons moços”, que preferem também discursar menos nos versos e deixar as guitarras falarem mais alto, sem aquela atitude blasé do privilegiado cheio de tédio que tomou conta da música Alternativa nas últimas décadas.

É o retrato também de um mundo afundado em uma pandemia, com músicas compostas e produzidas nesse período em que muito deixou de fazer sentido. Por isso as letras de Cooler Returns parecem pouco lógicas, com estrofes quase aleatórias dentro de suas narrativas (a sequência “I stay home, you go to work / I’ll sleep in your Jesus shirt / Lose my I.D. to the bar / Who’s that kid getting on the streetcar?”, em “Waiting in Line”, é um bom exemplo). Com o planeta de cabeça para baixo, poder cantar qualquer nonsense despreocupadamente é um baita de um alívio.

E há muita graça nisso tudo, nos vários sentidos que essa frase pode ter. É um som sempre divertido, garantia de uns bons sorrisos ao longo da audição do disco, e também sempre cheio de encanto em arranjos tão simpáticos. Para além disso tudo, Kiwi Jr. traz também uma bem-vinda generosidade com o público do Indie Rock, que pode finalmente parar de ouvir os sons de anos atrás e olhar para a banda como favorita para hoje e o que vem depois.

(Cooler Returns em uma faixa: “Cooler Returns”)

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ARTISTA: Kiwi Jr.

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.