Resenhas

Kurt Vile – Wakin on a Pretty Daze

Músico consegue superar o ótimo “Smoke Ring For My Halo”, de 2011, com um pouco de inovação e maior atenção nos detalhes

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Ano: 2013
Selo: Matador Records
# Faixas: 11
Estilos: Rock, Folk, Psicodelia
Duração: 69:03
Nota: 4.5
Itunes: http://clk.tradedoubler.com/click?p=214843&a=2184158&url=https%3A%2F%2Fitunes.apple.com%2Fbr%2Falbum%2Fwakin-on-a-pretty-da

Criar um ótimo disco é uma faca de dois gumes. Se por um lado o artista tem uma obra-prima em suas mãos, por outro, o público pedirá para que ele supere o resultado de um álbum incrível. Os caminhos a se seguir a partir daí são inúmeros, mas dois vieses se sobressaem: inovar o som ou manter a fórmula consagrada. Não há só uma resposta certa, porém para Kurt Vile o caminho a se seguir parece ser bem claro, já que as mudanças entre suas obras são sempre tão sutis que a sensação de continuidade entre elas é realmente assustadora. Kurt parece muito mais preocupado em talhar sua sonoridade aos poucos e ver aonde ela o vai levar, do que em assumir um formato disso ou daquilo.

O músico ficou conhecido no meio alternativo pelo disco Childish Prodigy, de 2009, mas foi somente em Smoke Ring For My Halo, de 2011, que foi consagrado por sua mistura psicodélica entre o Rock e Folk, e, é claro, seus toques do Lo-Fi, que permeiam todas as suas obras. Wakin on a Pretty Daze não é diferente destas e traz mais desta mesma mistura, porém ela se apresenta de uma maneira ainda mais potente. A melhora na produção e a diminuição do aspecto exacerbadamente Lo-Fi amplificam a qualidade do músico como guitarrista (que mostra sua virtudes ao apresentar alguns solos incríveis e ao criar ótimas harmonias) e como letrista (desta vez parecendo mais otimista e simples que em seus álbuns anteriores).

O resultado é um ótimo disco, daqueles que conseguem te prender por toda sua extensão. E observe que, para os dias de hoje, Wakin on a Pretty Daze pode ser considerado um disco realmente longo (atingindo a marca dos 69 minutos), com algumas das faixas ultrapassando os nove minutos. Mas logo ao ouvir a primeira canção, Waking a Pretty Day, você irá perceber que a passagem do tempo (ou pelo menos a contagem dele) parece não fazer mais sentido. O mergulho na obra parece quebrar os paradigmas temporais e você acaba se perdendo, submergindo em uma obra que ultrapassa a uma hora de duração sem sequer que você perceba.

Esta primeira faixa consegue traduzir muito bem a aura de todo o disco. Ela apresenta uma boa dinâmica entre a voz gentil e arrastada de Kurt, a melodia hipnotizante e a brincadeira com as tonalidades da guitarra, que ora assume timbres “acústicos”, ora “elétricos”. Ela vai crescendo aos poucos e chega a seu clímax em um belo solo. Em seguida, KV Crimes apresenta um tom cru, vindo do Rock clássico, algo que pode lembrar o lado roqueiro de Neil Young. Essa sequência nos lembra que Vile consegue produzir com uma diversidade bem grande e, a partir daqui, ela dominará a obra.

Assim como Smoke Ring For My Halo tudo soa muito delicado e no lugar certo, como se fosse talhado aos poucos e com muito cuidado. Faixas como Girl Called Alex e Goldtone lembram mais uma vez o mestre Young, mas desta vez em seu viés sonhador. Apresentando algo mais Pop e psicodélico, ao mesmo tempo, estão Never Run Away, Pure Rain e Too Hard, que presenteiam o ouvinte com belos momentos.

As mudanças na musicalidade de Kurt aparecem aos poucos e mesmo uma leve alteração pode gerar um resultado inesperado. Por exemplo, em Was All Talk, na qual as batidas parecem vir de uma velha drum machine que cria certa sensação mecanizada na percussão, porém o vocal e a instrumentação de sempre devolvem a sensação orgânica. Outras diferenças sutis aparecem em Shame Chamber (com os gritos agudos e ecoantes ao fim da faixa) e em Air Bud (mais uma repetindo as batidas eletrônicas e apresentando alguns ruídos do sintetizador). Essas pequenas doses de novidade garantem o frescor e a constante evolução do músico.

No geral, Wakin on a Pretty Daze, é, até agora, o disco mais acessível de Kurt Vile e leva sua musicalidade alguns passos adiante, mesmo que sejam bem pequenos. A simplicidade e o cuidado com os detalhes, nos fazem imergir nessa bela obra incrível, que já é uma fortíssima candidata a aparecer novamente em diversas listas de melhor do ano.

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ARTISTA: Kurt Vile
MARCADORES: Folk, Lo-Fi, Ouça, Psicodelia, Rock

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts