Resenhas

Kurt Vile – (watch my moves)

Entre jams e “rascunhos caprichados”, oitavo disco solo do músico americano brinca com expectativas e vai do lado mais orgânico à experimentação

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Ano: 2022
Selo: Verve Records/UMG
# Faixas: 15
Estilos: Indie Rock, Rock Alternativo, Folk Rock
Duração: 73'
Produção: Cate Le Bon, Jesse Trbovich, Kurt Vile, Kyle Spence, Rob Laakso e Rob Schnapf

O título entre parênteses revela muito da atitude de (watch my moves), principalmente a do ouvinte perante a obra. Kurt Vile caprichou direitinho no disco, entregando 15 faixas que se estendem por pouco mais de uma hora e segura bem nossa atenção com a beleza que conhecemos de seus trabalhos anteriores. Ainda assim, o disco tem uma cara descompromissada (ou ainda mais do que os antecessores) que combina bem com seu jeito de cantar – meio espontâneo, um tanto emocionado com ares desencanados – e essa aura acompanha toda a audição.

A maior parte das músicas vê seus desenvolvimentos alongados por mais de quatro minutos, com acordes que se repetem por um bom tempo sem muita progressão. Fica a impressão de uma postura de contemplação, ou de admiração mesmo, dos timbres da guitarra, mais mesmo do que da composição –  os momentos finais de “Mount Airy Hill (Way Gone)” dão essa pista. O desenvolvimento discreto de “Jesus on a Wire”, no qual duas guitarras dialogam por 50 segundos, também.

Quem está habituado ao universo estético de Kurt Vile não estranhará essa proposta, que faz com que o álbum tenha cara ora de jam, ora de um rascunho caprichado. Já quem pegar esse bonde andando pode ter certo desconforto justamente com esse “charme”, que nos entrega momentos como os ritmos oscilantes de “Like Exploding Stones” e “Chazzy Don’t Mind” – que pode chamar a atenção de alguns pela estranheza e espantar outros pelos “erros” da faixa de mais de sete minutos.

Na marca de oito álbuns lançados (além da parceria com Courtney Barnett), todas as escolhas estéticas e de produção do músico são justificadas pela sua experiência e correlata maestria. Músicas como “Say the Word”, “Hey Like a Child” e a balada “Stuffed Leopard” podem ser usadas como ícones para qualquer um que queira apontar o estilo de Vile, livre para brincar com nossas expectativas de suas composições.

Kurt Vile entrega o que queremos, enquanto sabe também abraçar o acaso, a organicidade e até a experimentação (como em “Kurt Runner”). Pode não ser um trabalho para quem não está habituado à sua musicalidade, ou a quem não topa um pezinho para fora do ordinário, mas, ainda assim, o título entre parênteses – (watch my moves) – nos relembra que talvez o álbum seja só uma coleção de boas ideias. E o que mais podemos pedir?

((watch my moves) em uma faixa: “Jesus on a Wire”)

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ARTISTA: Kurt Vile

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.