Resenhas

Lambchop – Showtunes

Com composições que exalam solidão e desamparo, Kurt Wagner atinge um novo patamar de refinamento criativo

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Ano: 2021
Selo: City Slang
# Faixas: 8
Estilos: Country Alternativo, Soft Rock
Duração: 31'
Produção: Jeremy Ferguson

Mesmo se você conhecer pouco de Lambchop, notará imediatamente que Kurt Wagner está em outro lugar musicalmente, e aquela estética que vem à mente quando você ouve o nome da banda reside oficialmente no passado. Melhor ainda é o deslumbre ao perceber que suas novas músicas são de um grau tão alto de refinamento, a ponto de ser um enorme prazer dar-se ao trabalho de repensar nossa relação com a banda (e, caso ela seja praticamente inexistente, o disco faz por merecer o cultivo desses laços). Isto é, se você não temer um certo grau de estranhamento, ou desconforto, sonoro e até mesmo emotivo.

A música que Wagner desenvolveu em Lambchop sempre esteve carregada de uma sensibilidade bastante evidente, e talvez essa seja uma das principais qualidades que atraíram pessoas ao seu trabalho nessas mais de três décadas em atividade. E esta parece ser a característica na qual ele decidiu investir mais de seu tempo e criatividade enquanto, simultaneamente, combinava o nível emocional que consegue atingir com uma bela dose de experimentalismo musical.

Gravado à distância, com parcerias de membros de bandas como Yo La Tengo e Poliça, Showtunes mergulha a voz de Wagner em uma ambientação tão volumosa quanto silenciosa. É um som espaçado, com grandes respiros que comportam e equilibram sua interpretação. Ela, por sua vez, se veste de crooner e traz esse charme que ligamos ao passado e à nostalgia para, em meio aos elementos eletrônicos, criar um momento tão inédito em sua discografia, quanto impressionantemente dramático.

Versos fortes como “If it’s the last thing we do together / Let’s fall in love” (em “Fuku”) ganham ainda mais potência em meio a um andamento complexo, quase jazzístico, e sua ambientação dissonante que não esconde o tom dark da faixa. O vocal narra cenas também bastante espaciais (algo meio Edward Hopper) em narrativas descritivas no formato poético (como “(…) I’m in a house along the beach / The interstate and trees sound just like waves / A voice beyond the leaves/Sings in a lazy kind of yodel / Softly spraying airy thoughts / This is all I know”, em “The Last Benedict”).

São músicas que exalam um tanto de desamparo com um pouco de solidão, algo ali entre um Nick Cave em seus anos recentes (percebido em faixas como “A Chef’s Kiss”), ou mais maduros, e um Bon Iver mais experimental (como no autotune em “Blue Leo”). É um espaço de uma beleza fora do óbvio, sem truques ou maneirismos baratos, mas um tipo de arte que conquista na sujeira, na confusão, nas coisas que mais são humanas. Talvez não seja para quem conhece Lambchop apenas de suas músicas mais tocadas, mas deve conquistar em cheio os ouvidos de quem amadureceu com a banda.

(Showtunes em uma faixa: “A Chef’s Kiss”)

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ARTISTA: Lambchop

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.