Resenhas

Laura Groves – Radio Red

Em nova fase, artista britânica investe no dream pop, mas mantém características marcantes da época de Blue Roses

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Ano: 2023
Selo: Bella Union
# Faixas: 10
Estilos: Dream Pop, Indie
Duração: 44'
Produção: Laura Groves

Laura Groves está longe de ser uma novata – seu primeiro álbum sob a alcunha Blue Roses saiu em 2009 –, mas Radio Red entra para a história como seu disco de estreia, já que é o primeiro lançamento no formato que a cantora, compositora e produtora britânica solta com o próprio nome. É uma ideia de recomeço, com a possibilidade de reinvenção, amparada sempre pela maturidade vinda dos anos na estrada.

O folk contemporâneo – dos tempos de Blue Roses – cede espaço a uma sonoridade oitentista muito familiar, aquele dream pop que te transporta imediatamente para uma cena de filme da época com um baile de colégio estadunidense. Você sabe, eu sei. “Sky at Night”, que abre o disco, é essa referência purinha, da melodia no piano à atmosfera etérea e dramática. Na sequência, “Good Intention” segue a mesmíssima linguagem, ainda que ofereça alguma variedade em termos de timbres e também na leveza com que a faixa se apresenta.

A partir daí, Radio Red revela não as diferenças, mas o que tem em comum com seu irmão mais velho, Blue Roses. Isso porque, dentro do universo já estabelecido nas duas primeiras músicas, o repertório migra para um lugar mais autoral e intimista, que traz canções com introduções longas e aspecto minimalista. É quase como se Kate Bush e Lana Del Rey produzissem algo juntas, e deve agradar em cheio quem gosta dessas artistas.

Se você escutou “Synchronicity”, a terceira faixa, e gostou, certamente vai se agradar do que o álbum oferece até o fim, com a beleza do vocal de Laura sempre muito bem combinada a outros elementos nas faixas – e seu talento como produtora é evidente nos mínimos detalhes. Ao mesmo tempo, a audição sofre um pouco com o quanto algumas músicas se parecem, a ponto de um breve momento de desatenção não perceber que uma faixa acabou e já começou outra.

De surpresa em meio à audição, o ouvinte encontra “Any Day Now”, com percussão bem demarcada e uma tensãozinha mais evidente que fica deliciosa nesse tipo de música. E vale citar também a bela participação de Sampha em “D 4 N” (e nos backing vocals de “Good Intention”, ainda que seu nome não apareça no título). Juntas, as vozes de ambos entregam um dos momentos mais bonitos de um disco de beleza sempre evidente.

Quem acompanhou Blue Roses tem a chance de conhecer esse “F5” que Laura Groves dá agora em sua carreira, com aquela mesma voz e coração em outro ambiente estético. E quem conhece a artista com esta obra pode voltar e revirar seu passado para desfrutar dessa sua nova favorita em outro momento. Muito prazer, em ambos os casos.

(Radio Red em uma faixa: “Good Intention”)

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BOM PARA QUEM OUVE: Laura Groves

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.