A primeira faixa de The Dreaming Room, intitulada Who I Am, não é necessariamente uma canção, mas revela algo de interessante. A introdução, de pouco mais de um minuto, serve justamente para isso, ou seja, para introduzir a atmosfera sonora e conceitual do álbum, no qual Laura Mvula parte em busca de si mesma em uma viagem pelo Pop Alternativo.
Tal busca, no entanto, é um refinamento do pressuposto conceitual de simplesmente “mostrar-se quem se é”. Em seu segundo trabalho, Mvula afasta-se do lugar comum temático. Ela é filha de músicos, já trabalhou como regente de coral e é formada em composição pelo conservatório de Birmigham. Em seu primeiro álbum, Sing to the Moon (2013), a artista apropriou-se de suas raízes negras, culturais e sonoras, ou como diria André Felipe em sua resenha, reconheceu “a herança que o passado nos deixou de uma forma assimilada naturalmente, integralmente”.
The Dreaming Room, por sua vez, parece uma evolução que parte dessa base predefinida e muito bem assentada. “I fell lost and found” canta a artista na faixa Kiss My Feet. Overcome é o nome de sua parceria com Nile Rodgers. À medida em que se afasta do R&B (sem, no entanto, abdicar dele), Mvula encontra-se no Pop Alternativo. O que podemos notar nesse trabalho mais recente é sua sonoridade muito mais envolvente e encorpada, e de audição mais fluída, que seu antecessor.
O Neo Soul e algumas pitadas de Funk não foram abandonadas, e portanto são os agentes responsáveis por manter a identidade potente de Mvula pulsando, mas é na aproximação ao universo eletrônico do Pop Alternativo atual, na fruição e no prazer descompromissado, que a artista parece inserir-se com maestria no cenário contemporâneo, e exibe uma grande capacidade de figurar ao lado (ou à frente) de alguns dos melhores nomes de sua geração.
(The Dreaming Room em uma música: Overcome)