Resenhas

Laure Briard – Coração Louco

Contexto inusitado de sua gravação não rouba a cena da qualidade de suas músicas

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Ano: 2018
# Faixas: 6
Estilos: Indie, Lo-Fi, Folk Psicodélico
Duração: 23'
Nota: 4.0
Produção: Benke Ferraz

Coração Louco revela toda sua identidade em menos de um minuto de disco. A faixa homônima de abertura entrega ao ouvinte os timbres e a ambientação que acompanham Laure Briard ao longo da obra, em seguida a um “Pode fazer?” metalinguístico que nos informa o caráter quase experimental de sua gravação.

Produzido ao longo de uma semana no interior de São Paulo, Coração Louco trouxe ao Brasil as composições em português da cantora francesa. Lá, ela gravou com amigos das bandas Boogarins (Benke Ferraz assina a produção), Carne Doce e Hierofante Púrpura um som que não apenas foi feito na nossa língua, mas que trabalha uma herança de diversos músicos brasileiros, principalmente da Tropicália, em uma sonoridade Lo-fi e Psicodélica sem exageros.

A primeira grande conquista de Coração Louco é não se contentar com o aspecto “pitoresco” de sua natureza – a história é curiosa e o sotaque chama atenção, mas a qualidade fala mais alto que seu contexto inusitado. A poesia de Laure traz um uso simples, quase ingênuo, das palavras para construir significados profundos, o que foi grandemente amparado pela sonoridade inquieta e doce ao mesmo tempo, de timbres agudos que ecoam roucos por trás da interpretação da artista.

Ela saúda Jorge Ben afetuosamente em Jorge, trabalha a introspecção em Tomada de Decisão e experimenta com improvisos em Numa Fria Noite, faixa central no disco que carrega muito de sua essência experimental. Para terminar, vêm as canções Janela e Cravado, lançadas anteriormente, fechando o repertório com grande carisma.

É complicado achar a nomenclatura mais correta para explicar Coração Louco de uma maneira direta, sem apelar para a contradição de “música brasileira feita por uma francesa”. Acaba sendo um disco aproveitado amplamente por quem dialoga com o repertório do Indie de hoje em dia, independente da língua com que é cantado, e ainda mais por quem conhece a sonoridade fabriqué au Brésil que o alimenta.

(Coração Louco em uma música: Coração Louco)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.