Resenhas

LCD Soundsystem – american dream

Após hiato de sete anos, James Murphy e companhia retornam em grande forma, mergulhando em mágoas acumuladas da meia-idade

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Ano: 2017
Selo: DFA/Columbia
# Faixas: 10
Estilos: Art Rock, Synth Pop, New Wave
Duração: 68'
Produção: James Murphy

(Resenha publicada originalmente em 6 de setembro de 2017 e reeditada para esse especial)

 

Após a chegada do álbum This Is Happening (2010), o LCD Soundsystem resolveu encerrar as atividades. Para comemorar o fim, a banda planejou um grande show de despedida, que aconteceu no Madison Square Garden, em Nova York. O evento, de quase quatro horas de duração, transformou-se em um álbum ao vivo – um box de cinco vinis – chamado The Long Goodbye: LCD Soundsystem Live at Madison Square Garden (2014). De toda a simbologia contida nesta ocasião, a que mais chama a atenção talvez seja o fato de que James Murphy tem, de fato, um talento especial na hora de fazer festa com sua melancolia.

Sempre foi assim e é da mesma forma também com este american dream (2017) – escrito assim mesmo, em minúsculas –, o quarto álbum de sua discografia. Este, que é o primeiro trabalho a trazer material inédito depois do hiato anunciado, consiste de uma celebração articulada em midtempo sobre as crises de meia idade. São muitas as bandas que cantam com desgosto o sonho americano que não se realizou. A via de LCD Soundsystem, no entanto, é muito particular, pois não é a da contemplação, e sim a do cidadão sobrecarregado de informação piscante dos letreiros da quinta avenida, com a cabeça latejante de ressaca moral.

american dream segue a fórmula Eletrônica do grupo, inclinada ao Art Rock. Aqui, no entanto, sobressai uma influência Post Punk (ou Disco Punk, ou Dance Punk, dependendo do ângulo sob o qual se olha). Existem traços distintos – e muitas referências assumidas – vindos de Talking Heads, Gang Of Four e David Bowie . Tudo isso para falar de luto, arrependimento, rusgas profissionais e outras amarguras protocolares. american dream é aquele gole musical bem dado de um old fashioned nas mágoas entaladas na garganta.

LCD Soundsystem retornou em forma. american dream avança no seu próprio tempo até que uma profusão envolvente de camadas sonoras tenha hipnotizado o ouvinte, como num sonho que se constrói aos poucos, mas nunca se concretiza. Aqui, James Murphy olha para a promessa de uma vida próspera que não se cumpriu nos Estados Unidos e celebra o seu eterno e melancólico fim de festa.

(american dream em uma faixa: “oh baby”)

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Autor:

é músico e escreve sobre arte