Resenhas

Le Butcherettes – A Raw Youth

Agressivo e atual, terceiro disco de banda mexicana é sua produção mais ambiciosa

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Ano: 2015
Selo: Ipecac
# Faixas: 12
Estilos: Indie Rock, Garage Punk, Rock Experimental
Duração: 41:35
Nota: 4.0
Produção: Omar Rodriguez-Lopez

De uma banda cujo o nome é Le Butcherettes, você certamente não pode esperar um disco comum. Vinda da tradição mais garageira possível, a banda mexicana não tardou a chamar a atenção da crítica logo em seus primeiros lançamentos, propondo sempre um Rock que conservava a rispidez do Punk, mas acrescentava a ele uma personalidade ímpar e marcante.

Muitas bandas já tentaram fazer sua interpretação do famoso gênero dos anos 1970, mas poucas alcançaram a maestria destas garotas, seja pela ferocidade da vocalista Teri Gender Bender ou por apresentar um som cru que não evidenciada nostalgias excessivas. Assim, a ansiedade pelo seu terceiro lançamento de estúdio se justificava, ainda mais quando anunciado que Omar Rodriguez-Lopes assumiria a produção do disco. Porém, tão potente quanto o nome da banda, foi o soco que tomamos na cara assim que apertamos o play. E acredite, valeu a pena levá-lo.

O grupo permanece em sua zona de conforto, produzindo o cru e conhecido som que lhe rendeu o renome que possui. Baterias comprimidas e agressivas, baixos que desafiam nosso fôlego, guitarras ríspidas, vocais protestantes: tudo está presente em A Raw Youth. A primeira faixa, Shave The Pride, já deixa claro isto e nos adverte (“Take a step back, take a step back”) para os “perigos” de se ouvir este trabalho. A hostilidade aqui toma um formato bem maior do que em qualquer outro de seus registros. O interessante é que, mesmos cientes dos perigos, ficamos muito curiosos em passar os próximos 40 minutos em um mundo que vai cuspir em nossa cara, nos chutar, ameaçar e melhor: nós vamos gostar disto. Uma espécie de Síndrome de Estocolmo na forma de um disco.

Toda essa hostilidade instigante advém do passo a mais que a banda deu em relação a discos passados. Teri Gender declarou em uma entrevista que a juventude crua à qual o título faz referência é uma tentativa de provocar o ouvinte principalmente tratando do assunto das minorias exploradas. Reason To Die Young é praticamente uma declaração de guerra convocando a juventude a se perguntar (“Who do we think we’ve become?”) e se erguer diante de injustiças. A parceria explosiva e desorientante com Iggy Pop é praticamente um hino militar moderno em forma de Rock, entoado em espanhol e dotado de várias camadas de instrumentos. *They F*k You Over, por sua vez, instiga com uma metáfora sobre a cultura de estupro, tomando formas de composições de Sex Pistols. Ou seja, não é um disco para se escutar de forma passiva.

Com mais experimentações de instrumentos, uma produção focada em transmitir força, bem como orquestrar tantos elementos e letras inteligentes e extremamente atuais, Le Butcherettes produz seu mais ambicioso trabalho até agora. Tomando novas proporções, está claro que esta não é mais uma banda Punk-Revival e, assim, sua relevância dentro deste espectro se torna cada vez maior e mais prazerosa de se escutar. A ansiedade por novos trabalhos triplica, bem como a vontade de tomar novos socos na cara.

Um disco de proporções sadomasoquistas.

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique