Resenhas

Lemoskine – Pangea I Pallace II

Banda curitibana inspira originalidade em segundo disco

Loading

Ano: 2015
Selo: Independente
# Faixas: 10
Estilos: MPB, Indie, Pop
Duração: 40:00
Nota: 3.5
Produção: Rodrigo Lemos

Você imaginaria? As mais de 16 milhões de visualizações do clipe de Oração, d’A Banda Mais Bonita da Cidade, talvez não tenham dado o contorno criativo da geração estampada naquele vídeo. Rodrigo Lemos, o rapaz que aparece aos 55 segundos ao pé da escada, tocando um cavaquinho, é o nome por trás de Lemoskine. O que parecia um registro juvenil despretensioso acabou alavancando algumas boas expressões da música brasileira contemporânea.

Lemoskine acaba de lançar o segundo disco, batizado de Pangea I Pallace II. O título evoca geografia (origem dos continentes) e urbanização brasileira (uma menção ao edifício carioca que ruiu em 1998, por um erro estrutural). As metáforas urbanas servem traçar uma busca de identidade – no caso, coletiva, já que a primeira pessoa é plural. É o pretexto para se discutir, em dez músicas, um passado no qual “nós” fomos ausentes e pensar o que fazer no tempo atual, quando são muitas as dúvidas. E nessa proposta plural, a riqueza nos arranjos empolga mostra bem a amplitude criativa.

Nesse Lugar, a primeira faixa, dá o tom da caminhada: tem cadência e apresenta uma adição contínua de camadas. É uma história oral que termina com uma leve psicodelia.

A abordagem psicodélica é um dos vários elementos setentistas de que Lemos se apropriou: há Groove, Soul Music e também Dub do fim da década de 60. Tudo isso, no entanto, chega ao ouvinte totalmente repaginado, com uma interessante embalagem de Música Popular Brasileira. Simbolicamente, quase no fim do disco se descortina a bela e texturizada Âncora Abre Alas, uma espécie de homenagem ao ícone marchinha. E todo esse impulso musical ganha coro com os músicos que acompanham Lemos: João Marcelo (baixo e baixo acústico), Rodrigo Chavez (baixo e piano) e Luís Bourscheidt (bateria e percussão).

Não há uma canção despropositada no disco, mas a sofisticada sutileza das faixas já citadas e também de Um Salve e Pirão elevam as expectativas e estabelecem um alto nivelamento nem sempre alcançado.

A dicção limpa e a clareza do vocal de Lemos chamam atenção à qualidade de produção, feita pelo próprio Lemoskine. Contraposta ao arranjos, a voz forma um combo rítmico poderoso e com dinâmicas variadas. A qualidade no resultado transparece uma preocupação de quem está na estrada há tempos, e esse é o perfil do músico, que já atuava no independente, nas bandas Poléxia e Naked Girls and Aeroplanes.

Ainda que pareça gerida para o segmentado nicho independente, a música de Lemoskine tem fôlego para alcançar um público ainda maior, e possivelmente desconectado das boas novas: mesmo com alguns problemas de dependência de Chicos, Caetanos, Miltons, Gals e Bethânias, há qualidade no cancioneiro brasileiro atual.

Loading