Resenhas

Leo Cavalcanti – Despertador

Segundo disco do compositor e multi-instrumentista surpreende pelas mensagens contidas e por sua coesão do começo ao fim

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Ano: 2014
Selo: Independente
# Faixas: 10
Estilos: MPB, Pop Alternativo
Duração: 47:00
Nota: 3.5
Produção: Leo Cavalcanti e Fabio Pinczowski

O aguardado segundo disco de Leo Cavalcanti aborda o Despertador nas mais variadas formas. Com letras positivas e uma MPB mais contemporânea, o trabalho mostra a sua verdadeira face quando inicia o seu lado B e se deixa levar por mais experimentalismos e psicodelia. A coesão temática praticamente abraça todo o álbum e, mesmo se algumas faixas não agradarem tanto de primeira, o conteúdo lírico e a sensação de paz proporcionada após a audição acabam conquistando o ouvinte ao final.

A faixa título, de forma mecânica e sintética pela sua produção eletrônica, personifica-se no despertar após um sono ou fase negra na vida do ouvinte. A nova fase do amor se inicia e passa a ser conduzida ao longo do restante do disco, seja de forma Leve, como neste ótimo Rock em que Leo transparece torpor e despreocupação, ou na baladinha Só Digo Sim. Nesta canção, que lembra muito o início da carreira do Pato Fu, o positivismo transborda: “não existe mais concessão, eu só digo sim mesmo quando digo não”. Os simples, mas eficazes, acordes construídos fluem muito bem com o tema e a torna um ótimo acompanhamento para um dia conturbado.

O timbre de Cavalcanti se mostra ainda mais apurado, alcançando falsetes inesperados e bonitos em Só Digo Sim ou O Momento. A capa geométrica com fundo cósmico é só uma amostra do tipo de “despertar” que Leo parece encontrar ao longo do disco. Evidentemente, ela aparece sob frases de autoconsciência, como na meditativa Tudo Tem Seu Lugar (“nem tudo aqui é só dor, nem tudo aqui é só prazer, nem tudo é só mau ou só bom mas tudo acontece em você”). Aqui, somos hipnotizados pelo som de cítaras em drone e um violão calmo que, quando conduzido pelo vocalista, causam uma sensação de calma e paz. A psicodelia lisérgica aparece como uma nova forma de despertar na curiosa – e com toques de MPB dos anos 1980 – Sonho Parasita. No entanto, é no segundo lado do disco que temos os melhores momentos.

Não só pela já citada Tudo Tem Seu Lugar, mas pela canção em inglês do disco, a suingada e dançante Get A Heart, demonstração da valência do músico, ou por Sua Decisão (Ser Feliz e Contente), outra música que tenta sempre ajudar o ouvinte a receber mensagens positivas. Com ares mais tribais em sua percussão, mas uma levada introspectiva e com certas lembranças a algumas orquestrações presentes em trabalhos de Curumim e Tulipa Ruiz, “ser feliz e contente para crescer” é a resposta para a vida, segundo Leo. O lado B é certamente mais solto pelo excesso de organismo que podemos perceber nas faixas. Seja por um violão sincero ou por uma cativante bateria, a segunda metade do trabalho é muito mais interessante.

De forma redundante e irônica, o melhor momento do disco fica com O Momento. Aos poucos, somos jogados por uma letra que indica diversas formas de comunhão, seja com o universo ou com um ser amado. Intensa, vai crescendo sem nunca indicar sobre o que está realmente se referindo e, nesta omissão, Leo vai cativando o ouvinte até que o verso derradeiro nos dá a referência: “e goza”. O músico constrói o ato sexual e seu êxtase de uma forma tão bonita e poética que dificilmente não entramos em um orgasmo sonoro e subjetivo. Brilhante e orgânica, é a faixa chave de toda a composição. Amoral segue a toada da segunda metade do disco e termina a obra sem deixar dúvidas a respeito da composição como um todo.

Abordando o despertar nas mais variadas formas, Leo acaba trazendo uma obra coesa à MPB contemporânea. Se na faixa título inicial temos o momento mais agitado, colocado intencionalmente para acordar o ouvinte, os momentos posteriores são feitos para que o mesmo entre em uma autoanálise forte, mas sempre com um olhar positiva por trás. Ao final, não importa se o despertar vem através de um orgasmo (O Momento), drogas (Sonho Paraista) ou pela meditação (Tudo Tem Seu Lugar), mas sim que ele aconteça e que consiga ser aproveitado quando realizado.

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BOM PARA QUEM OUVE: Castello Branco, Tulipa Ruiz, Pato Fu
MARCADORES: MPB, Pop Alternativo

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.