Resenhas

Leon Bridges – Coming Home

Cantor e compositor texano opta por padrões clássicos de Soul em estreia

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Ano: 2015
Selo: Columbia
# Faixas: 10
Estilos: Soul, Retro, R&B
Duração: 34:18
Nota: 3.5
Produção: Austin Jenkins, Josh Block

A imprensa especializada internacional está dividida sobre a estreia do jovem Leon Bridges. De um lado, os mais exaltados, que não se conformam com sua opção natural por uma sonoridade clássica, que segue os passos do que gigantes fundadores do estilo como Sam Cooke e Marvin Gaye faziam no início dos anos 1960. No outro canto do ringue, os moderados, que enxergam uma escolha natural por parte de Leon, que conseguem notar beleza em sua voz e esmero na pegada de suas canções – todas autorais. Eu tendo a fechar com a galera mais moderada, que é capaz de perceber a música como algo não necessariamente vinculado ao tempo transcorrido. Se fosse como os exaltados pregam, Leon Bridges teria que, por absoluta falta de opção, gravar um álbum de R&B contemporâneo, vazio, sem alma, Eletrônico por preguiça – não por vínculo – e com tendências à cafetinagem pura e simples. Em Coming Home, o cantor/compositor nos abre a chance de passear pelas calçadas de sua Fort Worth natal, não necessariamente em 2015. E isso é legal.

Auxiliado por Josh Block e Austin Jenkins, da boa banda White Denim, Bridges é, sim, um revisionista. Seu disco tem orgulho de estampar na capa uma imagem dele, com visual e arte sessentistas por excelência, além de ostentar com orgulho o tradicional selo da gravadora, levando-o a integrar um time de gente jovem que busca orgulho no passado da música, como Jack White, Amy Winehouse, The Black Keys, Mark Ronson, Daft Punk e o próprio White Denim. A princípio, Bridges sai com pequena desvantagem em relação a essa galera, uma vez que ainda não conseguiu imprimir uma marca pessoal em suas canções, soando, sim, bastante parecido com os mestres da música negra, o que, pelo amor de Deus, não o desmerece em nada, mas que serve de alerta para os próximos trabalhos. Por enquanto, vejamos o que ele oferece em Coming Home.

A abertura já traz a faixa-título, sem muita complicação. O andamento é em midtempo e o instrumental não faz qualquer questão de sair do início dos anos 1960. A voz de Bridges é limpa, correta e tem potência, se sobressaindo em relação a vocais Doo Wop que fazem a cama. Em Better Man, ele já surge com mais malandragem, evocando o poder transformador da fé como forma de se tornar uma pessoa melhor. Não esqueçamos que a origem de Leon – assim como a das maiores figuras da música negra americana – é a igreja com seus corais e missas celebratórias de domingo. Brown Skin Girl tem bossa e malemolência, mas poderia ser mais interessante se oferecesse um ritmo mais propício para a dança, ficando no seguro terreno da quase-balada. A acelerada no andamento surge logo na faixa seguinte, Smooth Sailin’, com bom trabalho instrumental (especialmente o naipe de metais) e performance vocal pra lá de satisfatória. Shine, vindo logo em seguida, é canção Gospel clássica e cheia de vocais belos, num caminho de glória a Deus. Tudo bem bonito.

A segunda metade do álbum tem início com a bela Lisa Sawyer, canção linda, feita em homenagem à mãe, com andamento Doo Wop e boa performance dos vocais de apoio. Aqui ele deixa de lado os vocais rascantes da Soul Music e encarna aqueles sensacionais vocalistas negros do fim dos anos 1950, como Nat King Cole, que era ídolo de seus ídolos. O remelexo está de volta com Flowers, mais próxima do R&B mais tradicional do que de sua mutação em Soul Music. Pull Away é balada aveludada para se ouvir no rádio e ligar pra estação, pedindo para que ela toque novamente. Twistin’ And Groovin’, ao contrário do título, não é lá tão dançante assim, mas traz reviravoltas em sua letra e instrumental correto. O final, com River, aponta para mais contato com Deus e a beleza dessa relação com as esferas mais superiores, usando como metáfora o curso da água num rio, algo que é figura clássica nessas canções.

Coming Home é uma boa estreia, desperta curiosidade suficiente no ouvinte, que espera saber logo os próximos passos de Leon Bridges. Também espera que ele saiba encontrar seu lugar nesse time do qual escolheu participar. Por enquanto, como aplicado atleta das categorias de base, dá pro gasto mas sabe que precisa subir para o time principal.

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ARTISTA: Leon Bridges
MARCADORES: R&B, Retro, Soul

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.