Resenhas

Liars – TFCF

Angus Andrew produz álbum experimental que abusa da liberdade de criação

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Ano: 2017
Selo: Mute
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Eletrônico, Experimental
Duração: 37:20
Nota: 2.5
Produção: Angus Andrew

Este é o primeiro disco de Liars como uma banda de um homem só, no caso, o líder, vocalista, multinstrumentista e cérebro pensante, Angus Andrew, aqui, também produzindo. Talvez para marcar bem esta nova fase ou para dar asas ainda maiores à imaginação, o sujeito resolveu aplicar um chute no pau da barraca e pariu um álbum experimental, esquisito e complicado. Nem sempre este tipo de movimento tem reverberação artística suficiente para se sustentar, uma vez que o público parece ser esquecido quando eles são realizados. Angus não concebeu um álbum que é totalmente diferente da música meio Eletrônica, meio Pós-Punk que caracteriza o trabalho de Liars, mas este TFCF, abreviatura para Theme From Crying Fountain, abusa dessa liberdade e acaba abrindo mão de uma apreciação mais simples, obrigado o ouvinte – nem sempre disposto – a se deparar com uma obra que se pretende grande e instigante. Sempre acho que estas qualidades são espontâneas e não surgem de movimentos mais ou menos programados. O resultado pode ser decepcionante.

O que temos por aqui é uma sucessão de canções com estrutura convencional, devidamente alteradas para perderem sua coerência de forma mais ou menos intensa, variando de uma para outra. O bom amálgama sonoro, que sempre norteou o som de Liars, serve apenas como um pano de fundo para ser “mexido”, de acordo com a vontade de Andrew, que se sente totalmente à vontade para tal. Pode ser um risco – e é – tal proposta num cenário em que a boa fruição das faixas deveria ser o trunfo principal. Mesmo que nunca tenha sido uma banda Pop, no sentido de composições fáceis em termos de estrutura e arranjos, Liars, como diria o outro, “já foi melhor”. Talvez haja um desejo secreto de fazer um Kid A revisitado, com alguma solenidade, ainda que sombria, vá saber. O fato é que o resultado não colabora nem para defender o álbum como uma obra conceitualmente intrincada – pois perde em espontaneidade – nem como um disco “difícil”, pois a criatividade parece comprometida demais.

As duas faixas de abertura se misturam e trazem guitarras solitárias e efeitos tecladeiros harmônicos que são soterrados por percussões sintéticas anormais e por um clima de solidão no meio de várias pessoas, que é diferente daquela que sentimos quando estamos no alto de uma montanha. The Grande Delusional e The Cliché Suite tem quase a mesma duração e podem soar como dois lados da mesma moeda no álbum. Staring At Zero, logo em seguida, leva adiante a estranheza com os mesmos efeitos percussivos, que se juntam a uma bateria eletrônica além do banal e à voz de Andrew, que parece vagar no meio de um nevoeiro de conto de Stephen King. A monotonia é deliberada, mas, bem, é monótona ao extremo. A faixa seguinte, No Help Pamphlet, tem uma levada de guitarras subvertidas em laboratório e poderia soar como um negativo de canção Pop convencional, talvez sendo o melhor momento de todo o álbum.

As canções seguintes abdicam de qualquer normalidade/empatia. Face To Face With My Face é um canto gregoriano from hell, enquanto Emblems Of Another Story também vai pelo mesmo caminho, soando como se fosse um campo de provas para timbres quase esdrúxulos de teclado e efeitos vocais. No Tree, No Branch soa como se fosse o entrelaçamento de duas ou três canções tocando simultaneamente, algo que, convenhamos, não lá essa graça toda ou é tão instigante assim. O disco segue com faixas que deveriam soar sensacionais e intrincadas mas que parecem cansativas e soporíferas. Se você está a fim de temperar sua vida – que já é puxada – com arroubos artísticos difíceis no sentido white people problems do gênero, aqui está sua trilha sonora. Do contrário, pule e vá ouvir outra coisa.

(TFCF em uma música: No Help Pamphlet)

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BOM PARA QUEM OUVE: Xiu Xiu, Battles, Interpol
ARTISTA: Liars

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.