Resenhas

Liars – Titles with the World Fountain

Novo álbum segue estranheza do anterior com mais coesão

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Ano: 2018
Selo: Mute
# Faixas: 17
Estilos: Eletrônica, Experimental
Duração: 37:09
Nota: 3.0
Produção: Angus Andrew

No último ano, Angus Andrew, o cérebro por trás de Liars, lançou três discos. A trilha sonora do filme 1/1, que foi o último trabalho com seu ex-companheiro de grupo Aaron Hemphill, TCFC, disco anterior, e este Titles With The Word Fountain. Em comum, o bode de perder o parceiro criativo e, mais recentemente, a morte do pai, mostram que Angus vem num daqueles períodos cavernosos da vida, nos quais pouco adianta fazer para escapar. O melhor é deixar as cacetadas virem para uma reação mais tarde ou, no caso dele, desaguar todos os sentimentos e dúvidas sobre o futuro em criações musicais. Não espanta que essa produção recente de Liars não seja das mais otimistas.

E nem é para ser. Se em TCFC a coisa já apontava para o uso da Eletrônica como fio condutor de uma obra pouco acessível e/ou dedicada a ouvintes, em Titles…, gravado nas mesmas sessões, há poucas mudanças. Talvez o passar do tempo faça bem à compreensão do trabalho, uma vez que sabemos do fim da dupla e as canções de TCFC já tiveram espaço e tempo para mostrarem os parâmetros inspiradores de Andrew. Dessa forma, o terreno está relativamente aplainado para a apreciação de um novo feixe de canções, 17 na versão padrão do disco e 29 no lançamento de luxo. Um detalhe: Andrew não fez questão de lançar o álbum fisicamente, mas abrirá exceções para pequenas demandas em vinil e em cassete.

As canções que se sucedem no álbum têm tamanho entre quatro minutos e 51 segundos, mostrando que não há parâmetros muito rígidos com relação a elas terem vida própria, permanecendo mais a ideia de que Andrew as concebeu como partes de um painel único e indivisível. Os climas se alternam ao longo dos 37 minutos, sempre com tonalidades cinzentas e panoramas opressivos. Há algumas exceções louváveis, como o instrumental harmonioso e belo de Perky Cut, que mais parece uma demo tape esquecida por alguma formação noventista de Trip-Hop. Outro bom exemplo é P/AM, ainda que totalmente diferente. É mais um dos experimentos com vocais semi-gregorianos e apocalípticos que Andrew gosta de fazer. É estranho mas funciona.

O resto do trabalho alterna momentos mais e menos inspirados, com uma nítida disposição em usar timbres e contextos para soar incômodo e deliberadamente pouco acessível a públicos maiores, o que não é demérito, pelo contrário. De vez em quando surgem espécimes quase prontos para uma pista de dança sem maiores exigências, caso do single Murdrum, que tem ambiência oitentista na inspiração e contemporaneidade total no resultado.

No fim das contas, talvez pela possibilidade de reflexão e passagem do tempo, Titles With The Word Fountain soe como um trabalho mais coeso e interessante que os antecessores. Talvez seja o primeiro com um padrão Liars devidamente assimildado e pronto para conquistar novos admiradores. A conferir.

(Titles With The Word Fountain em uma música: Perky Cut)

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BOM PARA QUEM OUVE: Xiu Xiu, Battles, Interpol
ARTISTA: Liars

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.