Resenhas

Lício – Fregata Magnificens

Músico brasileiro mostra sua proposta calma em seu primeiro trabalho, com uma produção muito bem executada

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Ano: 2013
Selo: Independente
# Faixas: 6
Estilos: Post-Rock, Nova Bossa, MPB
Nota: 3.0
Produção: Augusto Feres

É muita coisa. Sério. A cena nacional está produzindo cada vez mais coisas. Toda a tecnologia e as redes sociais acabaram por nos abrir portas e janelas, tendo acesso a novas bandas e artistas que não precisam mais de contrato com gravadoras para divulgar seu trabalho. A questão é que somos inundados violentamente com essa facilidade de acesso, tendo a cada dia que passa mais vinte bandas novas para você conhecer. Chega uma hora que você precisa parar e de distanciar desse caos informativo. É aí que o novo disco do músico Lício entra na sua vida.

Fregata Magnificens é um disco para se desligar do caos. Se puder, inclusive, escuta em uma canoa indo por entre os rios do interior. Embora tenha apenas seis faixas, a relativa curta duração não é justificativa para uma imersão profunda nesse registro. A capa do disco dá o direcionamento de como devemos (ou podemos) nos sentir: gaivotas voando em praias desertas envoltas por uma brisa fresca. É bom escutar alguma coisa da cena brasileira que tente sair desse padrão orfão de Los Hermanos e/ou revival anos 80 como Vespas Mandarinas.

Basicamente, o disco nos chama a atenção por dois motivos. O primeiro é a instrumentação. Lício acaba dando um enfoque para a produção das ambientalizações mais etéreas e que envolvem o ouvinte de tal forma que a única coisa com a qual ele deve se atentar, é a faixa escutada no momento. Temos algumas percussões eletrônicas em Mar Bravio que, por mais que o termo possa parecer agressivo para um disco relaxante, acaba se agregando bem aos acordes de violão bossa nova. Em Há de Haver encontramos um ótimo jeito para começar um disco com uma proposta dessas. As linhas de cordas e violão dão continuidade e ritmo, passando uma sensação de liberdade e calma.

O segundo motivo que chama a atenção do disco é a voz do músico. Um timbre livre de preocupações e bem arrastado, com algumas falhas de voz que acabam contribuindo para a formação de uma identidade da voz no disco. Eu Não Sei Nadar talvez exemplifique bem as observações citadas. A maneira com a qual ele diz as frases do refrão (“Eu não sei nadar/Só sei do mar de ir”) nos convida a ir para as praias desertas do Rio de Janeiro e convidar o Lício para tomar uma água de coco (sendo que provalmente ele já deve estar por lá, afinal, um disco tão calmo assim deve ter sido gravado em plena natureza).

Em resumo, temos um álbum que nos relaxa e nos revela um talento a se ficar de olho. Com uma produção boa e uma proposta coesa, vale a pena se desligar um pouco da realidade para escutar esse trabalho.

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BOM PARA QUEM OUVE: Marcelo Camelo, Wado, Cícero
MARCADORES: MPB, Nova Bossa, Post-Rock

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique