Resenhas

L’Impératrice – Pulsar

Terceiro disco do grupo parisiense explora clichês do nu-disco com talento, naturalidade e carisma

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Ano: 2024
Selo: microqlima
# Faixas: 10
Estilos: Nu-Disco, Pop, Europop
Duração: 40'
Produção: Charles de Boisseguin

Há todo um movimento de absolvição dos clichês que afirma que essa classificação só existe porque as obras assim chamadas cumprem muito bem os seus papéis. E essa afirmação também já virou lugar comum… Porque faz sentido. Ou seja, talvez a melhor maneira de se lidar com uma ideia pouco original (e que não se propõe a ser inédita) seja abraçar as expectativas e realizar algo que consegue ser legal mesmo se já for “manjado”.

Bem-vindos, então, a Pulsar, o terceiro disco da banda francesa L’Impératrice. Suas 10 faixas conversam com uma musicalidade bem conhecida do público que acompanha nu-disco e afins, com acenos que vão do french house o europop. É meio que exatamente aquilo que você espera de um grupo parisiense que não tem a menor vergonha de atender nossas expectativas, do vocal feminino a uma certa atitude blasé que dá as caras em alguns momentos.

No geral, o que fica é uma espécie de versão mais “banda” de um Random Access Memories, um clima que você sente desde a faixa de abertura, a instrumental “Cosmogonie”. A seguinte, “Amour Ex Machina”, chega de supetão com cores e texturas muito próprias da década de 1970 para encarnar Daft Punk e cantar “Les robots pleurent aussi parfois” (“os robôs também choram às vezes”) no refrão. É o início de uma festinha muito divertida, ainda que dentro daquele clima “sexy desinteressante” – que a atitude blasé prega.

“Me Da Igual” mistura versos em espanhol por cima de uma guitarrinha à la Nile Rodgers (a enésima prova da influência de “Get Lucky” nesta geração de músicos pop, franceses ou não) e encerra o primeiro ato do disco com o pique certo para o aquecimento. A obra ganha mais corpo na sequência seguinte, a começar por uma das maiores joias de Pulsar: “Love From the Other Side” é o momento “Instant Crush” do disco, uma canção longa de alma triste para falar de um amor observado por fantasmas que tentam se comunicar, sem sucesso, com quem está aqui neste plano. É uma temática lúdica que combina muito bem com a estrutura errante da faixa e suas breves surpresas.

“Danza Marilù” mergulha na música disco italiana ao trazer a cantora Fabiana Martone para um dueto com a vocalista Flore Benguigui. Saudosista e com todas as cores da ingenuidade, a música encoraja a personagem do título a dançar uma canção que “fala de todo amor que ninguém lhe dá”. Logo em seguida, Maggie Rogers traz o volume de sua voz para fazer drama em “Any Way”, balada com tanta pompa quanto charme sobre um romance exagerado – talvez um que Marilù gostaria de escutar.

“Déjà-vue” brinca com a ironia de seu nome e traz uma melodia familiar, quase previsível, mas bastante carismática na guitarra, ao mesmo passo que abaixa a guarda da narrativa do disco para sua conclusão após esse respiro. “Girl!” recupera o fôlego mais animadinho, ainda que siga a mesma descrição da anterior. É quando “Sweet & Sublime”, com participação bacaníssima de Erick the Architect, aparece como clímax do álbum. Cheia dos mínimos detalhes, a faixa sabe aproveitar o contraste do vocal baixinho de Flore com o rap mais intenso do convidado e conquista facilmente o ouvinte. A faixa-título encerra a obra com cara de música que toca durante os créditos do filme. (E tudo bem se você não prestar tanta atenção assim nela, embora ela saiba ser diferente ali em seus últimos segundos).

Pulsar é uma experiência de vários breves prazeres para quem compra sua proposta desde os primeiros acordes, ainda mais quando seguimos a estrutura de vinil com dois lados que conhecemos tão bem, ou essa narrativa dos três blocos que pode ser interpretada. Se o próprio nu-disco tão referenciado por L’Impératrice se propõe em sua essência a ser mais saudade do que novidade, o resultado não poderia ser lá tão diferente. Mas há muito valor nos sorrisos que encontramos dentro dos clichês, ainda mais se eles vêm da surpresa da qualidade da obra – ou do barato que é reconhecer uma mesma boa ideia pela enésima vez.

(Pulsar em uma faixa: “Me Da Igual”)

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ARTISTA: L'Imperatrice

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.