Em 2016, quando escrevi sobre a rapper londrina Simbi Ajikawo, que é mais conhecida pelo seu codinome Little Simz, chutei que faltava pouco para a artista passar do status de aprendiz para o de gente grande, se tornando um daqueles grandes nomes que influenciam os artistas mais jovens. Passados três anos, não deu outra: entrevista para o Monkeybuzz a artista afirmou que trabalhar com artistas consagrados é o tipo de experiência “que te faz crescer”.
O processo de crescimento, seja o pessoal, seja o profissional, assim como suas dores congênitas, parece ser o tema de GREY Area. O novo álbum da artista nasce num turbilhão causado pela chegada dos 25 anos. Ouvir o disco, no entanto, é perceber que seu caminho até aqui não foi trilhado à toa: GREY Area, além de ser o melhor de sua carreira, é também um dos melhores álbuns de Rap do ano até agora.
Por ter vinte e poucos anos, é natural que as referências presentes por aqui venham dos anos 90. Bases eletrônicas distorcidas vindas de artistas como Prodigy, a atmosfera nublada do Grime de Skepta ou melodias lo-fi vindas dos videogames de 64 bits são elementos que, reunidos, traduzem o universo de um jovem adulto em crise existencial.
Se a produção pontiaguda fica a cargo do amigo e produtor Inflo, Little Simz ataca com a incisão de versos marcados pelo humor corrosivo. Até mesmo a crise de identidade característica dessa fase parece vir a favor da artista na hora de definir os contornos de sua personalidade. A faixa Therapy, por exemplo, advoga contra a ideia de se fazer terapia, dando a entender que para Little Simz o Rap é uma maneira autossuficiente de entender o mundo.
Se Stillness In Wonderland era um álbum surrealista, de uma adolescente presa dentro do mundo mágico de sua própria cabeça, GREY Area é muito mais concreto. Aqui, a artista olha para a cidade cinzenta de Londres e compreende que nada na vida é preto no branco, fácil de entender. Parece que faz pouco tempo que Little Simz está na área, mas a artista já mostrou que, apesar de seu nome, nada tem de pequena.
(GREY Area em uma música: Venom)