Resenhas

London Grammar – If You Wait

Trio inglês vem com álbum intenso e emocionante que soa como um grito jovem responsável por tirar banda do anonimato

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Ano: 2013
Selo: Columbia
# Faixas: 11
Estilos: Downtempo, Eletrônica, Indie
Duração: 43"05
Nota: 4.5
Produção: Dot Major, Dan Rothman
SoundCloud: /tracks/88299044

Inquietos são os amantes de música. Praticando o que aprendemos melhor com Inception, vamos saindo de um artista que gostamos muito, para um relacionado, para outro similar e outro que combina. Nesse caminho nos deparamos com coisas boas, coisas iguais, coisas que passam batido e coisas que encaixam nos seus ouvidos como se sempre estivessem ali. London Grammar apareceu assim, de forma tímida, mas como um grito deixando impossível qualquer um que passasse por eles. Estamos falando de um trio de londrinos com um som minimalista, sintetizadores, piano e a voz (sim, com artigo para enfatizar) inconfundíveis, mesmo sendo anônimos alguns meses atrás.

A banda veio do UK’s Mercury Music Prize para o mundo e hoje já está presente nas listas de bandas a se notar em 2013, pela blogosfera. Não só pela melodia, não só pelo talento, não só pela mensagem, mas pelo calmante aos fãs (ou órfãos) de algumas bandas que nos impressionaram muito nos últimos anos e que foram se perdendo. Hannah Reid, a voz do projeto, é um híbrido loiro do que conhecemos de clássico em Amy Lee, forte como Florence Welch, misteriosa como Lana Del Rey sem contar umas pitadas de Judie Tzuke. E se estou falando de voz, eu faço questão de aprofundar, mas vou fazer isso mais tarde. Temos um guitarrista sensível Dan Rothman e um multi-instrumentalista responsável pelo teclado, sintetizadores e bateria. Dispenso comparações com The xx, apesar da óbvia forma de hipnotizar e talvez pelo talento de de Dot Major e Jamie XX. No entando, algo aí bate e traz a pulga para trás da orelha.

Antes de falar o que é, é momento de sentir o que é. Depois do EP Metal & Dust, lançado também esse ano, fomos surpreendidos com If you wait. Onze faixas, sendo duas dessas já regravadas e outras duas lançadas no Youtube/Soundcloud nos últimos quatro meses. Tudo no mesmo ano, sim. Cabeças frescas, vivências reais. E é essa a fórmula que deu muito certo para London Grammar. O ímpeto da impulsividade, o sentimentalismo intenso, a inconsequência são fases quase que obrigatórias a um jovem. Nessa instabilidade, o álbum se constrói trazendo, com altos e baixos, baladinhas possíveis de uma malemolência e outras já bastante introspectivas.

Hey Now dá boas vindas à carreira e traz, de novo, seu apelo, sua mágoa, sua vontade de superação. A mesma linha segue em Sights e a também conhecida Interlude, com uma marcação suave, violinos e o recheio vocal delicioso de Hannah. I’ll dream of you, you’ll dream of me too ou Hey now, letters burning by my bed for you ilustram isso o suficiente? Mas como num lampejo de urgência, as músicas pegam uma vida capaz até de celebrar uma ferida no peito com algumas faixas. É o caso de Wasting My Young Years (com certeza, a faixa mais memorável de toda obra), a regravada Metal & Dust e o último single Strong. É possível enxergar vida nos olhos dos três jovens, a respiração ofegante e o tom de incerteza no lirismo. A melodia ganha força no decorrer das músicas e o tom vocal sobe, torna agressivo e rouba o fôlego. Aqui é o resultado de um berro, como um animal para afastar outro, pela sobrevivência. Ou, em termos “contemporâneos” um berro para afastar os maus pensamentos.

Muitas características foram citadas, mesmo que paradoxais, entre a suavidade e a agressividade, mas, talvez, não a principal. As onze faixas, inclusive no incrível cover de Kavinsky em Nightcall, soam sinceras. Essa é a tal “pulga”. Soam com aquilo que não precisa de força para ganhar empatia. Soam com aquilo que serve de trilha para muitos momentos meus, seus e deles. E, talvez, por isso é tão plausível que comparemos os três a The xx, a James Blake, a Florence. Por que, lá no início de suas carreiras, antes do estouro para o mundo (e as rádios e festivais) existiram projetos sinceros, com influências próprias sem medo ou compromisso de desapontar. London Grammar representa tudo o que os fãs da boa música sentem falta, essa ousadia jovem, de início, que encanta. Essa inconsequência que muitos perderam pelo caminho, que talvez até nós mesmos deixamos cair, mas que se torna aquele elo entre o que somos e o que realmente queríamos ser, no final das contas.

London Grammar – Wasting My Young Years

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Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King